HETEROGENEIDADE DE CONHECIMENTOS NO DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

Julia S. Guivant

Resumo


Neste artigo é introduzido um assunto ainda pouco difundido no Brasil: o papel do conhecimento local no desenvolvimento rural sustentável. Na primeira parte, analisam-se três vertentes (populismo participativo, agroecologia e terceiro-mundismo sustentável) dentro de uma linha de argumentação que defende a necessidade de gerar um paradigma científico diferente do que se vincula com a agricultura moderna, que resgate e incorpore os conhecimentos marginalizados dos agricultores na definição de políticas agrícolas, de pesquisa e de extensão. Estas vertentes coincidem em assumir a mesma dicotomia que criticam, mas numa versão invertida. Na segunda parte, é proposta uma conceituação menos reducionista e dicotômica dos conhecimentos envolvidos nos processos de desenvolvimento rural. Para isto, sugere-se considerar estes conhecimentos como híbridos, misturas heterogêneas entre diversos tipos de conhecimentos. Os agricultores são aqui considerados como atores sociais com capacidade não só para desenvolver experimentos criativamente, mas também por ter habilidade para absorver continuamente e retransformar idéias e tecnologias que recebem. Isto implica deixar de idealizar o conhecimento local como intrinsecamente mais sustentável, assim como possibilita redefinir as relações entre este conhecimento e o científico. Finalmente, são propostos tópicos de uma agenda de pesquisa, que pode enriquecer o debate sobre a agricultura sustentável.

HETEROGENEITY OF KNOWLEDGE
IN RURAL SUSTAINABLE DEVELOPMENT
ABSTRACT
In this article, a discussion is introduced which is still little divulged in Brazil, on the role of local knowledge in rural sustainable development. The first part of the article analyzes three directions of discussion (participative populism, agroecology and third-world sustainability) within a line of reasoning which emphasizes the need to generate a different scientific paradigm from that associated with modern agriculture, which rescues and incorporates neglected knowledge of farmers in the definition of agricultural, research and extension policies. These discussions coincide since they assume the same dichotomy which they criticize, but in a modified version. In the second part of the article a conceptualization less reductionist and dichotomous is proposed. For this, it is suggested that this knowledge be considered as hybrid, a heterogenous mixtures among various types of knowledge. The farmers are considered here as social actors with ability not only to carry out creative experiments but also with the intelligence to continuously absorb and retransform ideas and technologies which they receive. This implies no longer idealizing local knowlegde as intrinsically more sustainable, as well as allowing a redefinition of the relations between this knowledge and the scientific. Finally, topics for a research agenda are proposed, which could improve the discussion on sustainable agriculture.

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DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1997.v14.8979