INTRODUÇÃO

Cyro Mascarenhas Rodrigues

Resumo


Estamos fechando o volume 15 dos Cadernos de Ciência & Tecnologia, neste ano marcado pelas comemorações de um quarto de século de existência da Embrapa. E o fazemos em alto estilo, valendo-nos de uma criteriosa seleção de artigos, como convém aos CC&T, trazendo para o debate questões, não raro polêmicas, como a focalizada no artigo de John Kleba, que abre esta edição.

Mas antes de entrar na apresentação dos textos, queremos nos desculpar por um lamentável erro de composição da edição passada (v. 15 n. 2) que omitiu o nome dos pareceristas, ao repetir, inadvertidamente, os nomes dos refrees que trabalharam para o v. 15 n.1. Para corrigir o equívoco, registramos os agradecimentos devidos a Emilson França de Queiroz, Ivan Sérgio Freire de Sousa, José Ramalho, Levon Yeganiantz Mauro Márcio Oliveira, Miguel Angelo da Silveira, Milton Kanashiro, Rivaldo Mafra, Rui Albuquerque e Sidival Lourenço que nos apoiaram na seleção e revisão de trabalhos que compuseram o citado número.

No presente número, John Kleba introduz a discussão de uma questão relevante da revolução biotecnológica nos dias atuais: os riscos potenciais e os benefícios resultantes do uso de plantas transgênicas. Ele tem como referencial o caso da soja RR produzida pela Monsanto, resistente a herbicida, que recebeu parecer favorável da Comissão Nacional de Biossegurança - CNTBio, mas foi objeto de uma ação judicial do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Idec. A alegação do Idec é que os riscos da soja RR para a saúde humana e para o meio ambiente ainda não foram suficientemente estudados. Mas existem posições diferentes e, por isso mesmo, esperamos novas contribuições para o debate no próximo número dos CC&T.

Segue-se um ensaio assinado por Marília Coutinho que retoma a discussão sobre modelos teóricos para a explicação das transformações científicas, tendo como foco de análise o surgimento da biologia molecular. Para muitos a biologia molecular é tida como uma revolução científica nos termos kuhnianos. Contrariando essa posição, a autora desenvolve seu argumento, apresentando algumas evidências, de que a biologia molecular, longe de representar uma mudança paradigmática da genética, seria uma nova disciplina, "com instrumentos conceituais e metodológicos (e hoje institucionais) fortes o suficiente para sustentar a sua pretensão de subsumir não somente a genética, mas toda a biologia", conclui.

No artigo seguinte, José Norberto Muniz e Antonio do Carmo Neves se valem de um inventário tecnológico para a região do Jequitinhonha e Mucuri, Minas Gerais, e de um diagnóstico de necessidades levantadas entre produtores dessa região, para trabalhar a hipótese de que existe um hiato entre os sistemas de C&T e as reais necessidades tecnológicas locais de agricultores. Uma das conclusões revela a fragilidade das metodologias participativas como estratégia para reduzir esse hiato.

Em seguida, Nelson Frederico Seiffert reafirma uma preocupação cada vez mais presente nas discussões sobre o desenvolvimento sustentável. Em "O desafio da pesquisa ambiental", temos uma discussão sobre as conseqüências das atuais formas de intervenção humana no espaço físico e territorial; por outro lado, uma advertência quanto à necessidade de redirecionamento da pesquisa agropecuária, com vistas ao uso sustentável das potencialidades ambientais, sem ameaças predatórias.

Fechando a seção Artigos, Maria de Nazaré Angelo Menezes e Gutemberg Armando Diniz reconstituem os sistemas de exploração madeireira do vale do Tocantins, procurando encontrar semelhanças e diferenças entre os processos praticados no séc. XVII e a prática atual. Uma nota a lamentar é a conclusão de que a despeito dos esforços governamentais no sentido de dar um cunho mais racional à exploração, em bases auto-sustentáveis, "a atividade continua predatória e fora de controle".

Na seção Debates, prossegue a discussão de uma questão iniciada no número anterior. Com "Demanda e participação no processo de P&D", Mauro Márcio Oliveira tece comentários críticos ao texto "Desenvolvimento no enfoque de P&D" de autoria de Osmar Muzilli, Jaime Genu, Wenceslau Goedert e Márcio Miranda. A réplica aparece em seguida, no texto, de Osmar Muzilli, "Ainda desenvolvimento no enfoque e P&D".

Finalmente, na seção Resenhas, Ivan Sérgio Freire de Sousa comenta o livro de Victor Leonardi "Entre árvores e esquecimentos: historia social nos sertões do Brasil" e Manoel Moacir Costa Macedo, o livro de E. Woortmann & K. Woortmann "O trabalho e a terra: a lógica e a simbólica da lavoura".

Esperamos que o próximo ano seja marcado por novas conquistas e realizações, apesar da crise que se avizinha E aos nossos leitores e colaboradores, o desejo de que 1999 materialize os seus mais diletos sonhos.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1998.v15.8943