Introdução
Resumo
O presente número abre o volume 34 dos Cadernos de Ciência & Tecnologia, correspondente ao ano de 2017.
Abrem-se também novas perspectivas para a revista, que a partir de agosto de 2016 conta com a participação de Célia Regina Tremacoldi e Antônio Luiz Oliveira Heberlê – ambos pesquisadores da Embrapa Informação Tecnológica – na editoria técnica da revista, ao lado de Maria Amalia Martins, editora desde 2003.
No intuito de apresentar os novos editores técnicos, seguem-se as suas credenciais, resumidamente.
Celia Regina Tremacoldi é engenheira-agrônoma, mestre em Agronomia (Microbiologia Agrícola) e doutora em Agronomia (Fitopatologia). Com pós-doutorado em Bioquímica e Microbiologia, é pesquisadora A da Embrapa e trabalhou na Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, PA, de 2005 a 2015. Em 2015, passou a atuar na Embrapa Informação Tecnológica, Brasília, DF, como coeditora da Revista Pesquisa Agropecuária Brasileira (PAB). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitopatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: fisiologia e bioquímica do parasitismo, controle biológico de patógenos veiculados pelo solo, proteases, enzimologia, inibidores de proteases, biologia molecular.
Antônio Luiz Oliveira Heberlê é bacharel em Comunicação Social-Jornalismo, mestre em Comunicação Social e doutor em Ciências da Comunicação. É pesquisador A da Embrapa e trabalhou na Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, RS, de 1982 a 2015. Em 2015, passou a trabalhar na Embrapa Informação Tecnológica, em Brasília, DF. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Comunicação para o Desenvolvimento. Ainda no campo da Comunicação dedica-se à divulgação científica, à comunicação social, ao jornalismo científico e semiótica.
Tal ampliação e reforço da equipe diretamente responsável pela qualidade técnica do conteúdo da revista – uma medida aliás demandada há bastante tempo – atende às necessidades de atualização e conformação dos Cadernos de C&T às novas estratégias nacionais concernentes à comunicação científica, cuja concepção e implementação vêm sendo carreadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Scientific Electronic Library Online (SciELO).
Aos novos Editores, as nossas boas-vindas.
No que concerne ao conteúdo deste primeiro fascículo do 34° volume dos Cadernos de C&T, este contém seis artigos, dos quais os dois primeiros estão relacionados a espécies do bioma Cerrado – o pequi (Caryocar brasiliense) e o cumbaru (Dipteryx alata) – exploradas de forma extrativista e pouco conhecidas fora das regiões de ocorrência. Os três trabalhos seguintes trazem similaridades que vão além de sua tipificação metodológica: são estudos de caso realizados no Rio Grande do Sul, em Tocantins e no Rio de Janeiro, todos relacionados à viabilidade e sustentabilidade das iniciativas analisadas. O último trabalho se constitui numa revisão sobre tema de primeiro plano no momento atual, relacionado aos agrotóxicos.
O primeiro artigo, que trata de uma espécie explorada de forma extrativista e pouco conhecida fora das regiões de sua ocorrência, intitula-se Monitoramento tecnológico de uma importante espécie do cerrado: Caryocar brasiliense e é assinado por Luciana Harumi Morimoto Figueiredo, Aldicir Scariot e Alexandre Guimarães Vasconcellos. O texto traz o resultado do monitoramento do conhecimento publicado e das tecnologias geradas com o pequizeiro (Caryocar brasiliense), espécie destinada, além do consumo local in natura, ao processamento pelas indústrias alimentícia e cosmética. Este estudo mostra que, apesar de o Brasil ser o grande gerador de conhecimento sobre a espécie, grande parte das tecnologias geradas e protegidas pelo sistema de patentes são de titularidade de empresas estrangeiras ou de pessoas físicas que, em sua maioria, perdem o processo de patente. Os autores chamam ainda a atenção para a importância do investimento na geração e proteção de tecnologias que envolvam o pequizeiro, bem como para a promoção de aproximação de instituições de pesquisa e entidades de caráter coletivo (cooperativas, associações, redes) que trabalham com a espécie, no sentido de promover a exploração desta com foco em produtos e processos inovadores com maior valor agregado, o que facilitaria o acesso dos consumidores brasileiros e estrangeiros aos produtos derivados do pequizeiro e aumentaria a renda das comunidades de pequenos agricultores por meio de uma melhor utilização do fruto.
O segundo artigo sobre as espécies exploradas de forma extrativista e pouco conhecidas fora das regiões de ocorrência – Cadeia produtiva do cumbaru (Dipteryx alata Vogel) em Poconé, Mato Grosso – é assinado por Sonia Aparecida Beato Ximenes de Melo, Fabricio Schwanz da Silva, André Ximenes de Melo e Thatiany Silva Bento. O estudo se concentrou sobre a cadeia produtiva do fruto de cumbaru (Dipteryx alata Vogel) em Poconé, um município do Mato Grosso localizado no Pantanal, numa área de transição com o Cerrado. Foram identificados os principais obstáculos na coleta, processamento e distribuição e os resultados indicaram uma cadeia sem integração positiva entre os elos. O levantamento mostra que a industrialização é de baixa agregação tecnológica e desconsidera os custos de produção, distribuição, venda e marketing. As instituições que processam são as mesmas que distribuem as amêndoas no atacado e no varejo. Não obstante ser um produto de alto valor nutricional e de agradável palatabilidade, ideal para consumo como acompanhamento de bebidas destiladas e fermentadas, bem como para incrementar doces, bombons, sorvetes e outras guloseimas, a falta de divulgação do cumbaru e a resistência ao consumo das amêndoas pelos autóctones são as principais barreiras de consumo, o que revela a necessidade de estruturação da cadeia produtiva, de capacitação do extrativista, de valorização dos produtos florestais não madeireiros (PFNMs), e de regularização da comercialização.
O artigo A agricultura familiar no contexto das cooperativas rurais: o caso da Ecocitrus, de autoria de Vonia Engel, Giovana Goretti Feijó de Almeida e Cidonea Machado Deponti, traz uma reflexão sobre a relação entre agricultura familiar e cooperativas rurais, tendo-se a Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus), no Rio Grande do Sul, como estudo de caso. Os autores analisaram a dinâmica da inserção da agricultura familiar na perspectiva de uma cooperativa que se autointitula como ecologicamente sustentável. Para o alcance deste objetivo, utilizou-se como metodologia uma pesquisa de natureza qualitativa e de cunho exploratório, juntamente com uma visita in loco à cooperativa em 2014, com aplicação de entrevistas semiestruturadas a seis famílias cooperadas. Os resultados apontam para o incentivo do resgate da agricultura familiar de forma sustentável, ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável, o que abrange outras atividades além da produção agrícola.
O artigo Análise de sustentabilidade do Projeto Hidroagrícola Javaés/Lagoa, no Estado do Tocantins, assinado por Paula Benevides de Morais, Sebastião Nolêto Júnior e Iracy Coelho de Menezes Martins, apresenta uma análise do potencial de desenvolvimento sustentável dos projetos hidroagrícolas desenvolvidos na região do médio Rio Araguaia. Sendo a agricultura a principal atividade econômica do estado, a avaliação ambiental estratégica permite antecipar impactos de planos, programas e políticas de desenvolvimento. O Projeto Hidroagrícola da Lagoa da Confusão foi analisado à luz dos planos e programas de agricultura irrigada do Tocantins, sendo elaborados três cenários de desenvolvimento para a região do projeto, com análise de impactos ambientais em cada cenário. Foram detectadas incompatibilidades entre os objetivos do projeto e aqueles de desenvolvimento sustentável, e verificou-se que as tendências atuais de tais políticas podem levar à insustentabilidade socioambiental da região do Médio Araguaia, além da deterioração social.
Jenifer Cristine Medeiros e Cristhiane de Oliveira da Graça Amâncio assinam o artigo Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV) como potencializador da agroecologia na Associação Agroecológica de Teresópolis, RJ, que traz a análise das limitações e potencialidades do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV) como potencializador da agroecologia na Associação Agroecológica de Teresópolis (AAT). O BCSAV surgiu em 2007, como uma iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com outras instituições. O programa, de abrangência nacional, surgiu para suprir duas demandas: a baixa utilização da técnica de adubação verde e a pouca disponibilidade de recursos genéticos apropriados à agricultura agroecológica e orgânica. No estado do Rio de Janeiro, foram formados 70 bancos de sementes, sendo 65 familiares e 5 comunitários; e na AAT foi formado um banco comunitário de sementes e 31 bancos familiares. Por ser este um quantitativo expressivo no total de bancos formados, a AAT foi escolhida como universo da pesquisa apresentada. Diante das análises e pesquisa de campo, é possível afirmar que, apesar das dificuldades que o programa enfrenta, ele contribui positivamente para a independência e autonomia dos agricultores quanto às sementes e à promoção da agroecologia.
Impactos de agrotóxicos sobre o meio ambiente e a saúde humana é o artigo de revisão assinado por Diana Cléssia Vieira Belchior, Althiéris de Souza Saraiva, Ana Maria Córdova López e Gessiel Newton Scheidt, que aborda resultados científicos dos impactos de agrotóxicos utilizados em cultivos agrícolas sobre o meio ambiente e a saúde humana. O alto consumo de agrotóxicos nos cultivos agrícolas brasileiros tê efeitos variáveis, podendo atingir facilmente organismos não alvos, a exemplo de predadores, organismos de solo, polinizadores, bem como aqueles presentes em ecossistemas aquáticos, o que pode causar desequilíbrio ambiental e problemas à saúde humana. O uso indiscriminado de produtos fitossanitários levou o Brasil a ocupar uma indesejável liderança do ranking mundial de consumo de agrotóxicos. O estudo deixa patente a necessidade de mais incentivos à adoção de práticas agroecológicas, de capacitação daqueles que manipulam os agrotóxicos, bem como da proibição de princípios ativos já comprovadamente nocivos ao ambiente e à saúde humana, além de uma fiscalização mais rígida pelos órgãos ambientais competentes.
A todos, uma boa leitura.
Maria Amalia G. Martins
Editora Técnica
DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct2017.v34.26301