Intoxicação experimental em bovinos por “ mio-mio”, Baccharis coridifolia

Carlos Hubinger Tokarnia, Jürgen Döbereiner

Resumo


Baccharis coridifolia D.C., da família Compositae, é a planta tóxica para herbívoros mais difundida e mais importante no sul do Brasil. Apesar disto há poucos dados, baseados na experimentação, sobre a toxidez desta planta para bovinos. Foram administradas, por via oral, as partes aéreas superiores de B. coridifolia a 31 bovinos. Desses experimentos, 22 foram realizados com a planta verde recém-colhida e 9 com a planta dessecada; a planta foi administrada aos bovinos em diversas quantidades e em diferentes épocas do ano, a alguns animais repetidas vezes, com ou sem administração de água após a sua ingestão; os animais procediam de região em que ocorre a planta e de região onde ela não ocorre. A planta foi coletada nos municípios de Cacequi, Itaqui e Uruguaiana, Rio Grande do Sul. B. coridifolia mostrou uma variação bastante grande em sua toxidez de acordo com a época do ano. Enquanto que em outubro/novembro, com a planta em brotação, recém-colhida, foram necessários 2 g/kg para causar a morte de bovinos, em março, com a planta em floração e formando sementes, também recém-colhida, apenas 0,25 a 0,50 g/kg foram suficientes. Desta maneira a planta em março é 4 a 8 vezes mais tóxica do que em outubro/novembro. Os sintomas da intoxicação experimental com B. coridifolia em bovinos, nos casos que terminaram com a morte do animal, foram bastante uniformes em todos os experimentos realizados, tanto com a planta recém-colhida como com a dessecada. Havia anorexia, timpanismo leve a moderado, instabilidade do trem posterior, às vezes associada a tremores musculares; o animal ficava irrequieto, deitava e levantava-se seguidamente, permanecendo cada vez mais tempo deitado em decúbito esternal, às vezes tombando para o lado. Os animais ainda tinham focinho seco, secreção nos olhos, rúmen sem bracejo percebendo-se à auscultação murmúrio contínuo, fezes ressequidas e poucas, leve sialorréia, polidipsia, polipnéia com ritmo irregular e às vezes gemidos, taquicardia; finalmente o animal morria dentro de um quarto a uma hora após o decúbito lateral. Nos experimentos com a planta dessecada não foram observados nem timpanismo nem sintomas nervosos; nos experimentos com a planta verde recém-colhida timpanismo foi observado mais frequentemente e com mais intensidade em outubro/novembro, enquanto que sintomas nervosos foram vistos, sobretudo em março. Os primeiros sintomas apareceram, nos experimentos que terminaram com a morte do animal, com a planta recém-colhida, entre 5 e 29 horas, e com a planta dessecada, entre 6 e 17 horas após a sua administração; a duração dos sintomas com a planta recém-colhida foi de 4 a 34 horas, é com a planta dessecada, de 8 a 63 horas, e o prazo entre a administração da planta e a morte do animal, com a planta recém-colhida, foi de 14 a 41 horas, com a planta dessecada, de 25 a 74 horas. Nos experimentos que não terminaram com a morte do animal, observou-se, tanto com a planta recém-colhida como com a planta dessecada, anorexia, rúmen sem bracejo mas com murmúrio contínuo, rúmen compacto à palpação, focinho seco, catarro nas narinas, exsudato catarral nos olhos, sialorréia leve, prisão de ventre, geralmente seguida de diarréia; havia emagrecimento e restabelecimento com normalização dos movimentos do rúmen e volta do apetite. A duração da doença nesses casos variou de poucas horas até, no máximo, 14 dias. Os experimentos indicam que não há diferença na susceptibilidade à intoxicação por B. coridifolia entre animais de regiões em que haja ou não a planta. Indicam também que, beber água após a ingestão da planta, não influencia a evolução da intoxicação. A planta dessecada mantém a sua toxidez durante longo período, pelo menos até 18 meses após sua coleta com conservação em temperatura ambiente, porém perde aproximadamente metade de sua toxidez no processo de dessecação. Os experimentos com administrações repetidas revelaram que a planta não tem poder acumulativo e indicam que o animal desenvolve pequena tolerância. Os achados de necropsia mais frequentes consistiram em congestão da mucosa e edema da parede do rúmen e do retículo, congestão e petéquias na mucosa do coagulador e intestino delgado, este último com conteúdo líquido, fígado com coloração mais clara que o normal, hemorragias no epi e endocárdio. Os principais achados histopatológicos foram necrose e desprendimento do epitélio da mucosa edemaciada do rúmen e do retículo, congestão no baço e edema nos espaços de Disse do fígado.


Palavras-chave


Plantas tóxicas; intoxicação por plantas

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