INTRODUÇÃO

IVAN SÉRGIO FREIRE DE SOUSA

Resumo


Efetivamente há hoje uma equipe coesa orientando, incentivando e colaborando diretamente com os CADERNOS DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIA. Assim sendo, mais e mais os CDT deixam de ser uma publicação do Departamento de Difusão de Tecnologia da EMBRAPA e tornam-se responsabilidade de uma crescente e diversificada equipe nacional de estudiosos do desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Brasil. Esta abertura e o caráter nacional dos CDT são demonstrados não só pelos trabalhos publicados mas também pela composição do seu Conselho Editorial. Neste número 2 do volume 3 dos CDT são apresentados quatro artigos. O primeiro e o último tratam de problemas relacionados diretamente com a região dos Cerrados, região que, em termos físicos, abrange, no Brasil, cerca de 180 milhões de hectares. No trabalho de abertura, Vilma Figueiredo e Michelangelo Trigueiro apresentam resultados de pesquisa sobre as relações de produção e de propriedade na atividade agropecuária da região geoeconômica de Brasília. Intitulado "O processo de modernização nas fronteiras agrícolas: a região geoeconômica de Brasília", o trabalho trata a fronteira agrícola "não apenas como área potencial de atividades econômicas vis-à-vis à existência de mercados, mas também como espaço socialmente definido". Assim, argumentam os Autores, a fronteira agrícola é, do ponto de vista econômico, uma espécie de "armazém regulador" e, do ponto de vista político, uma "válvula de escape" das tensões sociais no campo. Da apresentação e discussão dos dados surge um padrão concentrador e excludente a dominar o desenvolvimento da estrutura produtiva da região geoeconômica de Brasília. Assim, aspectos como a concentração fundiária, os padrões existentes de absorção de tecnologias e as características da força de trabalho sugerem aos Autores a inviabilidade da pequena empresa de produção na área estudada.

No outro trabalho relativo aos Cerrados, Celso Salim estabelece a sua análise sem perder de vista as relações entre os setores agrário e urbano-industrial. É desse relacionamento, afirma o Autor, que emerge o padrão de desenvolvimento agrário no Brasil e de onde pode ser entendido o papel do Estado em todo o processo. Aproximando-se das conclusões de Figueiredo & Trigueiro, Celso Salim argumenta que os mecanismos de ação da política agrícola promovida pelo Estado tendem a afetar, pelo menos, três marcas do desenvolvimento agropecuário do País: a inalterabilidade da estrutura concentrada da distribuição fundiária, a exclusão da pequena empresa de produção no processo de desenvolvimento, e a aceleração do processo de proletarização do trabalhador rural.

Os outros dois trabalhos da seção de artigos tratam de temas específicos e independentes. Derivando de sua participação nos cursos de aperfeiçoamento sobre metodologia de capacitação de recursos humanos do Sistema EMBRATER, Fátima Sousa discute o tema "Estrutura e processo do conhecimento e a ação do extensionista rural". Com a preocupação de unir teoria e prática, Fátima Sousa discute algumas possíveis contribuições da epistomologia genética proposta por Jean Piaget para a ação do extensionista rural. Não havendo modificações ao nível das estruturas mentais do agricultor e do extensionista, isto é, ao nível do pensamento/ação, não se chegará a nenhuma elaboração. É argumentado que a dúvida, o confronto e os questionamentos são os únicos elementos capazes de provocar desequilíbrios e levar os indivíduos a buscar novas formas de adaptação.

O trabalho seguinte, o terceiro em sequência neste número, é de autoria dos colegas Rui Albuquerque, António Ortega e Baastian Reydon e consiste da parte II, que conclui o estudo cuja publicação teve início no número anterior deste volume: "O setor público de pesquisa agrícola no Estado de São Paulo". Desta feita é analisado o que os autores situam como o impacto da EMBRAPA sobre a pesquisa agropecuária do setor público paulista.

Na seção de resenhas, Roberto Ferreira dos Santos, Maria Lúcia Maciel e Mauro Márcio Oliveira analisam, respectivamente, as obras O Estado, a agricultura e a pequena produção (Wilkinson), O avesso da moda: trabalho a domicílio na indústria de confecções (Abreu) e O arrendamento capitalista na agricultura; a evolução e situação atual da economia do arroz no Rio Grande do Sul (Beskow).

A ausência da seção de debates neste número talvez mostre aos leitores a importância da sua participação decisiva nos questionamentos teórico ou metodológico dos trabalhos apresentados.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1986.v3.9209