INTRODUÇÃO

CYRO MASCARENHAS RODRIGUES

Resumo


Com este número, os Cadernos de Difusão de Tecnologia - CDT entram no sexto ano de sua trajetória, mantendo o mesmo propósito que orientou a sua criação: servir como instrumento de discussão crítica da problemática de ciência e tecnologia relacionada com a produção agropecuária.

Ao assumir a editoria dos CDT, a partir deste número, homenageamos o companheiro Ivan Sérgio Freire de Sousa, que nos antecedeu nesta tarefa, cumprindo com zelo e competência a sua missão. O lugar que ocupávamos na editoria de resenhas será preenchido pelo colega Manoel Malheiros Tourinho, do quadro da CEPLAC, atualmente prestando serviços à EMBRAPA.

Antes de apresentar o conteúdo temático desta edição, cumpre esclarecer aos leitores algumas mudanças de ordem administrativa por que passaram os CDT. Como se recorda, a revista era uma publicação do então Departamento de Difusão de Tecnologia - DDT, da EMBRAPA, mais precisamente do seu núcleo de estudos e pesquisas. Hoje, sem prejuízo de sua linha editorial, a revista figura entre as publicações resultante de um esforço conjunto do Departamento de Difusão e Transferência de Tecnologia - DTT e do Departamento de Publicações - DPU. Ao DPU competirá a revisão, produção gráfica, circulação e vendas, enquanto o DTT se ocupará da produção editorial por delegação do DPU, uma vez que a este Departamento compete a gestão da política de publicações da EMBRAPA.

Abrindo a seção de artigos, Gerald Assouline faz uma análise comparativa do processo de modernização agrícola no Brasil e na Tailândia, duas economias agroexportadoras que adotaram o mesmo modelo tecnológico, baseado no uso maciço de insumos e no aumento da produtividade. Inserindo o papel das grandes empresas internacionais do setor de defensivos na operacionalização deste modelo, Assouline relata as transformações por que passam as estratégias dessas corporações para se ajustarem às crises, que a partir do final da década de 70 têm afetado as agriculturas do Brasil e da Tailândia. Nas conclusões, são realçados os custos econômico, social e ecológico da política de modernização agrícola nos dois países e os dilemas da indústria internacional de defensivos frente ao esgotamento do modelo. O leitor certamente gostará deste trabalho, não apenas pela leveza do texto como pela precisão das discussões, sempre respaldadas em dados estatísticos recentes.

Mauro Márcio de Oliveira traz colaboração importante à discussão do relacionamento entre agricultura e inflação, sob o capitalismo periférico. A sua abordagem transcende o campo estritamente econômico, ao introduzir na discussão o componente social, que lastreia a tese da base inflaciogênica secular, causada pela inadaptação da estrutura social à lógica do sistema produtivo capitalista, em outras palavras, a "dissonância entre o social e o econômico (DSE)."

No terceiro trabalho, Bastiaan Philip Reydon analisa o processo evolutivo da assistência técnica oficial em São Paulo, a partir da década de 40 até a criação da CATI. Ele explica como as mudanças institucionais, verificadas nas quatro fases que compõem esse processo, expressam a própria evolução da agricultura paulista do ponto de vista das transformações capitalistas que nela tiveram lugar.

José Molina filho comparece recomendando a reestruturação das bases e dos estudos sobre a difusão de inovações na agricultura, pela eliminação das limitações do modelo clássico dominante, que se assenta na teoria da modernização e no conceito dicotômico "tradicional-moderno". O artigo retoma as discussões que desde a década passada têm sido colocadas pelos comunicólogos mais críticos, a exemplo de Juan Diaz Bordenave e Luiz Ramirez Beltran, à concepção difusionista de Everett Rogers, no âmbito das nações do terceiro mundo.

Finalmente, Jairo E. Borges Andrade, Suzana M. Valle Lima, Célia Regina V. Soares e Silvia M.A. de Paula apresentam o resultado de pesquisa sobre a avaliação das necessidades de treinamento dos gerentes de pesquisa da EMBRAPA, mostrando, entre outros achados, que a avaliação e transferência de tecnologia foi a área de conhecimento mais prioritária entre as necessidades levantadas.

A sessão de debates apresenta dois textos interessantes: no primeiro, Vilém Flusser, tomando como eixo de análise a zona cinzenta existente entre a ciência, a técnica e a arte, defende a tese segundo a qual o ensino de ciência posto em prática na maioria das escolas superiores, em todo o mundo, não atende às necessidades da própria prática cientifica nem às expectativas da sociedade. O segundo texto, de autoria de Osmar Muzilli, relata uma reflexão pessoal a respeito da articulação ensino-pesquisa-extensão rural, nos últimos vinte anos, dedicando atenção especial à polêmica gerada em torno da privatização de determinados setores da pesquisa e assistência agronômica.

Na seção de resenhas, Gutemberg Armando Diniz Guerra comenta "A oligarquia do Tocantins e o domínio dos castanhais" de Marília Ferreira Emmi; Ivan Sérgio Freire de Sousa comenta "O mundo da soja" de Jean-Pierre Bertrand, C. Laurent e V. Leclerq; e Cyro Mascarenhas Rodrigues comenta "Revolução científico-técnica e acumulação de capital" de Theotônio dos Santos.

Esperamos que este número dos CDT seja do agrado dos nossos leitores, que muito nos têm incentivado na árdua tarefa de produzir um periódico, nas circunstâncias atuais de crise em que vivemos. Agradecemos todo apoio e manifestações de simpatia para com a Revista. Vamos em frente.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1989.v6.9141