INTRODUÇÃO

Cyro Mascarenhas Rodrigues

Resumo


Apesar dos percalços, estamos fechando o volume 6 dos Cadernos de Difusão de Tecnologia - CDT. Assim, esta edição corresponde aos números 2 e 3. Nossos leitores, a esta altura, estão cobrando, com razão, a regularidade desta revista, que inegavelmente preenche uma lacuna no mercado editorial, viabilizando a discussão crítica da produção do conhecimento científico e tecnológico no campo agropecuário.

Cabe-nos explicar que algumas mudanças administrativas ocorridas na Embrapa redundaram em reestruturação que afetou profundamente o Departamento responsável pela edição dos Cadernos. No momento, está-se reexaminando a posição dos CDT à luz da nova orientação administrativa. Esteve em jogo, inclusive, o prosseguimento ou não da revista, decisão que independia da vontade deste editor, francamente favorável à sua permanência. Os membros que formam o nosso Conselho Editorial devem desconsiderar a correspondência recebida do antigo Departamento de Difusão e Transferência de Tecnologia (DTT). A nossa tarefa continua.

O primeiro artigo deste número, assinado por Tamás Szmrecsányi, traz uma importante reflexão sobre a questão da concorrência e complementação no setor açucareiro mundial, afetado nas últimas décadas por crises de superprodução e redução significativa de comércio internacional. Ele atribui às variáveis tecnologia e progresso técnico importância fundamental na "determinação das estruturas do mercado e das margens de manobra dos seus participantes", razão por que não devem ser desprezados nos mecanismos de regulação, atualmente em crise.

Jalcione Almeida retoma a questão das chamadas tecnologias alternativas, procurando determinar e sistematizar as formas sociais a elas vinculadas, em reação aos padrões de modernização da agricultura brasileira. Para tanto, ele examina as dimensões e complexidades da tecnologia na sociedade capitalista e os seus efeitos contraditórios nos diferentes contextos onde é produzida e absorvida.

Procurando responder aos processos de diferenciação social decorrentes da modernização da base técnica da agricultura brasileira nos anos recentes, Vilma de Mendonça Figueiredo e João Gabriel L. Cruz Teixeira relatam uma pesquisa realizada no Departamento de Sociologia da UnB. Sem maiores pretensões de aprofundar teoricamente a questão da diferenciação social no campo, os autores analisam uma série de estudos de caso, com os quais montam um painel de diversificação estrutural.

Em "Política agrícola e pequena produção: um discurso ilusório", Cyro Mascarenhas Rodrigues discute a discriminação da pequena produção camponesa nas prioridades das políticas agrícolas brasileiras. Ressalta da sua análise um quadro referencial mais amplo, o da política econômica, em que a intervenção do Estado como condutor deste processo revela o seu caráter classista, que privilegia os interesses das frações de classes dominantes. Ricardo Abramovay registra "Duas visões do comportamento camponês", refletindo teoricamente a dificuldade de grandes sistemas de explicação marxista e neo-clássico fundamentarem a problemática do comportamento e a sua sobrevivência na sociedade capitalista. Dois textos são tomados como eixo de discussão: Scott, que, representando a sociologia da ética camponesa, enfatiza a dissolução do sistema cultural do "village" tradicional, com o avanço capitalista; e Popkin, que, numa visão menos trágica desta avanço capitalista, acredita que os camponeses são movidos por um "self-interest', refutando a existência de normas sociais orientadoras de sua conduta.

A Seção de Artigos tem ainda mais uma contribuição de Ivan Sérgio Freire de Sousa e Michelangelo Giotto S. Trigueiro. Trata-se de um diagnóstico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no qual se discutem itens como: estrutura organizacional, sistema de programação, política de recursos humanos e alocação de recursos. Com este trabalho, os autores pretendem oferecer "dados importantes para o direcionamento e análise" desta instituição de pesquisa.

Na Seção de Debates, Matheus Bressan levanta tópicos para o aprofundamento da discussão sobre "publicidade e ideologia". Esperamos que esse texto estimule a participação, principalmente, dos estudiosos da área de Comunicação, ultimamente com presença menos assídua nos CDT.

Finalmente, a Seção de Resenhas registra as colaborações de: Manoel Malheiros Tourinho, comentando "Criação de empresas de alta tecnologia; capital de risco e os bancos de desenvolvimento", de autoria de Silvio Aparecido dos Santos; Zander Navarro, comentando "O futuro do sistema alimentar", de John Wilkinson; Raimundo Silva de Alencar, comentando "A utopia extensionista", de Mauro Márcio de Oliveira; e, finalmente, Gutemberg Armando Diniz Guerra, comentando "Urbanização e remoção: por que e para quem?", de Aurilea Gomes Ablém.

O próximo volume dos CDT, o sétimo, sairá numa única brochura, com os números de 1 a 3.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1989.v6.9129