INTRODUÇÃO

Resumo

Temos a satisfação de trazer ao leitor o presente volume dos Cadernos de Ciência & Tecnologia, da Embrapa. Complementando o volume anterior, os artigos aqui apresentados centram-se na reflexão das transformações no padrão produtivo tecnológico da agricultura, incluindo ainda o tema da reorganização institucional da pesquisa agrícola e agroindustrial. Em sua maioria, os textos são resultado das atividades do projeto "Pesquisa Científica, Mudanças Tecnológicas e Produção Agroindustrial", conduzido pelo Departamento de Política Científica e Tecnológica, da Unicamp, e pelo Laboratoire de Etudes et de Recherches sur Economie de la Production, da Université de Sciences Sociales Toulouse I, no âmbito do acordo de cooperação CAPES/COFECUB. Conforme anotado no volume anterior dos CC&T, este projeto de cooperação franco-brasileira é coordenado na França pelo prof. Alain Alcouffe, da Universidade de Toulouse I, e no Brasil, pelo prof. Sergio Salles Filho, do DPCT-UNICAMP. O projeto conta ainda com a participação das seguintes instituições: pelo lado brasileiro, o Instituto de Economia da Unicamp; o Departamento de Economia e Sociologia Rural, da ESAQ-USP; e o Centro de Pós-graduação em Desenvolvimento Agrícola-CPDA, da UFRRJ. Pelo lado francês, participam o Laboratoire de Interdisciplinaire de Recherches pour les Resources Humaines et l'Emploi-LIRHE, da Université de Toulouse I; a Université de Montpellier I; as estações de Economia, do Institut National de la Recherche Agronomique-INRA, em Montpellier, Grenoble e Grignon. Os principais temas de pesquisa deste projeto são: transformações tecnológicas na agricultura e na agroindústria; e reorganização institucional da pesquisa agrícola e agroindustrial.

O primeiro artigo deste volume, de autoria de Mário Possas, Sergio Salles Filho e José Maria da Silveira, traz uma proposta conceitual e metodológica para tratar a economia agrícola. Procurando reduzir a importância metodológica das assim chamadas especificidades da agricultura, o artigo alerta para a impropriedade de tratar a agricultura como um locus separado de valorização dos capitais. Partindo de uma análise histórica e conceitual da dinâmica de inovações tecnológicas na agricultura, argumenta-se que a noção de trajetórias tecnológicas explica, com bastante propriedade, a formação do atual padrão tecnológico. Esta argumentação é reforçada por uma análise das transformações em curso no padrão tecnológico da agricultura, em âmbito nacional.

O segundo artigo, de Ademar Romeiro,. caminha na mesma diração, na medida em que propõe uma interpretação evolucinária do progresso técnico na agricultura. Numa análise ponto-a-ponto das principais tecnologias agrícolas, Romeiro enfatiza o mecanismo de gargalos tecnológicos como indutor da inovação na agricultura e mostra, numa perspectiva de interação tecnologia-ambiente, como a coordenação entre as diferentes tecnologias foi sendo obstruída ao longo do tempo, resultando num pacote tecnológico complexo e de equilíbrio delicado.

O próximo artigo, de autoria de Walter Belik, complementa as análises feitas nesse volume e no anterior, trazendo uma avaliação atualizada dos caminhos da agroindústria processadora no Brasi.. O autor focaliza o processo de reestruturação da agroindústria no País, tomando como eixo da análise as mudanças nos padrões de consumo alimentar e seus impactos nas estratégias produtivas e tecnológicas da agroindústria processadora e dos demais segmentos de serviços alimentares situados a jusante da cadeia agroalimentar.

O quarto artigo, de Débora Luz de Mello, aprofunda o atual debate do processo de reorganização das instituições de pesquisa agrícola. Com um detalhado estudo de caso do Instituto Agronômico do Paraná, a autora analisa as mudanças dessa Instituição frente às novas demandas e desafios em todo o mundo. Numa abordagem comparativa, na qual são mostrados vários exemplos de reorganização institucional, a autora argumenta pelo caráter global e inescapável de reestruturação que se apresenta tanto nas instituições regionais e estaduais, quanto nos institutos nacionais e supranacionais.

O quinto artigo, de Eduardo Trigo e David Kaimowitz, dá seqüência ao tema da reorganização da pesquisa agrícola, mas agora de uma óptica latino-americana e incluindo o tema da extensão rural. Utilizando uma abordagem factual pautada na sua larga experiência no tema, os autores trazem um resumo acurado e bastante completo dos problemas subjacentes ao modelo institucional da pesquisa e extensão agrícolas erigido a partir do final dos anos 50. Trata-se de um texto básico para quem procura entender a crise institucional da pesquisa agrícola nos dias de hoje.

A seção Debates traz as opiniões de outro autor, com a larga experiência na temática de desenvolvimento institucinal da pesquisa pública. Trata-se de Jorge Ardila, cuja preocupação centra-se no tema da eficiência da pesquisa, ou melhor, do que ele chama de êxito institucional nas instituições latino-americanas, incorporando as variáveis de demanda, de clientes, de análise de custos, mas reforçando, ao mesmo tempo, o papel social da pesquisa pública.

Na seção de Resenhas, somos brindados com a análise crítica de Tamás Szmrecsányi sobre dois recentes livros de Manuel Correia de Andrade. O primeiro livro resenhado (ambos são de 1994) versa sobre o problema ambiental. Trata-se de um conjunto de ensaios que ressalta as interconexões entre a questão ambiental e os fatores de ordem econômica e política. O segundo livro centra-se na análise dos efeitos sócio-econômicos e ambientais da modernização da agroindústria canavieira. São resenhas que, mesmo sintéticas, dão o fio da meada para o leitor.

Antes de encerrar esta Introdução, gostaríamos de agradecer aos editores dos Cadernos de Ciência & Tecnologia pela oportunidade de editarmos os volumes 10 e 11. É um grande prazer trabalhar com pessoas como Ivan Sergio Freire de Sousa, José de Souza Silva e Cyro Mascarenhas, sempre instigados que estão pelo desafio das idéias. A eles deixamos um afetuoso abraço.