INTRODUÇÃO
Resumo
Com este número, estamos atualizando as edições quadrimestrais dos Cadernos de Ciência & Tecnologia, após três volumes condensados, referentes aos anos de 1993 a 1995. Registramos também algumas alterações na estrutura operacional da revista, a fim de tornar mais ágil o processo de editoração. A principal delas foi a redução do número de componentes do Conselho Editorial, que passa a ter oito membros, em vez de 21, sendo-lhes conferida maior responsabilidade no planejamento, acompanhamento e avaliação das edições. A par disso, foi ampliado o quadro de consultores científicos, com vista a acelerar o processo de seleção dos trabalhos encaminhados à revista, o que certamente fará reduzir o lapso de tempo entre o recebimento dos originais e a publicação da revista.
Dito isto, passemos ao que aguardam os leitores deste número. A primeira chamada é para a seção Debates, que não pode deixar de ser lida, dada a importância e a oportunidade das questões discutidas, e que devem suscitar polêmica entre pensadores de diferentes tendências. Trata-se de uma análise prospectiva da nossa agricultura nos próximos 20 anos, intitulada "Especulações a respeito da agricultura brasileira", um texto que prima pela objetividade e clareza, assinado por Eliseu Alves. Mesmo sem maiores pretensões com o rigor da construção de um modelo, o autor fundamenta as suas idéias em estudos anteriores mais elaborados, de sua própria lavra, e em referências recentes da literatura especializada. Como ele próprio adverte, o objetivo do trabalho é apenas estimular o debate, a partir de uma análise de macrotendências. Por conseguinte, não se aprofunda na discussão dos reflexos dessas tendências nas questões de bem-estar social, nem tampouco focaliza mais acuradamente políticas econômicas que eventualmente possam estimular ou obstar tais tendências. Temos aí um campo fértil para o debate. É muito provável que outros desejem colocar a sua perspectiva analítica em relação a tais questões, principalmente levando em conta a instigadora pergunta deixada pelo Autor no último parágrafo do seu texto. Aguardamos, pois, as iniciativas a tempo de figurarem na próxima edição.
A seção Artigos é aberta com o ensaio de Lea Velho e Paulo Velho, "Scientific collaboration of advanced/developing countries in the biological sciences: the case of the Maracá Rain Forest Project". Eles examinam questões inerentes aos projetos internacionais de colaboração científica a partir da experiência de 18 meses do Royal Geografical Society (Reino Unido), em Maracá, na Amazônia. A despeito da importância que tais projetos possam ter para o conhecimento e a utilização dos recursos genéticos dos nossos ecosssistemas, os autores reconhecem a necessidade de avaliação de tais projetos, e propõem uma metodologia cuja aplicação pode resultar em subsídios valiosos para orientar a tomada de decisão política em relação às questões levantadas. A temática institucional da pesquisa agropecuária nos estados é focalizada no ensaio seguinte, de Sérgio Paulino, intitulado "A importância da superação do paradigma produtivista para os sistemas estaduais de pesquisa". O texto coloca alguns elementos para a reflexão da necessidade de modificarem-se as bases institucionais da pesquisa agropecuária, no âmbito estadual, com a superação do paradigma produtivista que deu sustentação aos estados por mais de uma década. Conclui apresentando alguns referenciais que, no seu modo de ver, devem orientar a reestruturação institucional dos sistemas estaduais de pesquisa em direção a um novo enfoque de P&D.
O próximo artigo, "Estudos de ciência e tecnologia no Brasil: um balanço crítico", é de Ana Maria Fernandes, do Departamento de Sociologia da UnB. No primeiro momento, a Autora reúne a bibliografia pertinente, resultante de pesquisas realizadas nas universidades latino-americanas, para depois concentrar a sua análise na produção sociológica e de outras disciplinas da área de humanidades no Brasil, tendo como foco a relação entre ciência, tecnologia e sociedade. A constatação principal é a de que, apesar da produção significativa na área, C&T não têm o destaque merecido nos orçamentos da União e das empresas privadas brasileiras e, de igual forma, não ocupam um lugar preciso na agenda do Congresso Nacional e, o que é pior, na agenda da Academia.
Em seguida temos um estudo da mudança organizacional experimentada pela indústria de frango nas décadas de 70 e 80 no Brasil. O artigo intitulado "Custos de transação e coordenação vertical na indústria do frango" é de autoria de José Joaquim Nicolau, da UFSC, e mostra como a competitividade da cadeia produtiva de frango de corte no Brasil revelou ser um dos êxitos mais marcantes do "agribusiness" nacional.
Fechando a seção Artigos temos "Caracterização de sistemas de produção por zonas agroecológicas: a experiência do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo", produzido por uma equipe de pesquisadores daquele Centro, liderada por D. P. Monteiro. Os autores propõem uma metodologia de análise do setor agrícola considerando a interação entre ofertas ambientais e aspectos sócio-econômicos. Tal metodologia, segundo eles, oferece vantagens em relação às abordagens tradicionais, entre outros motivos, pelo baixo custo de execução.
Na seção Resenhas, o autor desta Introdução comenta o livro de Gilda Portugal Gouvêa, "Burocracia e elites burocráticas no Brasil", uma obra que focaliza um segmento da burocracia estatal no Brasil, a chamada tecnocracia da área econômica, em momento crucial da transição política brasileira, entre 1983 e 1987, quando foi implementada importante reforma no sistema financeiro do País. Sem mais delongas, esperamos que o leitor tire bom proveito desta edição dos CC&T. Cyro Mascarenhas Rodrigues Editora
Palavras-chave
DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1996.v13.8986