INTRODUÇÃO

Cyro Mascarenhas Rodrigues

Resumo


Registramos, com satisfação, o fechamento de mais um volume dos Cadernos de Ciência & Tecnologia, preparando-nos agora para os números do volume 15 que circularão no próximo ano. Em 1998, teremos uma novidade para os nossos leitores: estaremos lançando uma edição extra comemorativa dos 25 anos da Embrapa e 15 anos dos CC&T. Essa edição especial terá como foco a propriedade intelectual na agricultura, uma questão muito polêmica, com implicações econômicas, sociais e éticas. Na verdade, é um campo propício para raciocínios e especulações que podem contrapor a ética da convicção à ética da responsabilidade, num interessante exercício da antinomia weberiana.(1)

Neste número, retomamos a discussão da reordenação institucional da pesquisa agropecuária, em face da tendência observada em todo o mundo, de redução da participação do Estado no custeio de pesquisas científicas. Qual deve ser o tamanho dessa participação e quais estratégias podem ser acionadas para neutralizar o impacto da escassez de recursos públicos sobre a pesquisa agrícola? Procurando responder essa questão, John Antle, da Universidade do Estado de Montana, USA, comparece com o artigo "Fixando limites: o papel do governo na pesquisa agrícola". Ele confirma a argumentação de outros autores que já passaram por aqui ao assumir que, a despeito da redução da intervenção do Estado no mundo globalizado atual, o setor público continuará exercendo papel importante na pesquisa agrícola. Mas acredita que, no caso do Brasil, os investimentos privados em pesquisa agrícola só serão significativos na medida em que a Lei de propriedade intelectual na agricultura se torne uma realidade. Na seqüência, Sergio Paulino de Carvalho discute exatamente essa questão no artigo, "Proteção de cultivares e apropriabilidade no mercado de sementes no Brasil". O texto é muito denso, permeado de uma discussão conceitual que focaliza os mecanismos e instrumentos utilizados pelas empresas para a apropriação de produtos resultantes do processo de inovação. Mas não deixa de apresentar um referencial empírico, baseado em resultados de uma pesquisa realizada no contexto do mercado brasileiro de sementes, e que mostra como as empresas se apropriam dos resultados de P&D.

Segue-se o artigo de Julia Guivant, "Heterogeneidade de conhecimentos no desenvolvimento rural sustentável", que tem o mérito de inovar a discussão, trazendo para o debate o que há de mais recente na literatura internacional sobre essa temática. Com uma análise crítica bem fundamentada das três vertentes assim denominadas: populismo participativo, agroecologia e terceiro-mundismo sustentável, a autora preconiza uma conceituação "menos reducionista e dicotômica" para os processos de desenvolvimento rural sustentável.

O próximo texto focaliza uma área de discussão de interesse dos CC&T, história da ciência, mas que tem sido aqui pouco explorada. "Mudanças técnicas na agricultura medieval e o processo de transição para o capitalismo" é um ensaio de Amilcar Baiardi, que pretende chamar a atenção para a importância da agricultura de base familiar, resgatando com muita competência a trajetória das mudanças técnicas na agricultura camponesa medieval, que serviram de base para a expansão do mercantilismo, abrindo caminho para a revolução industrial.

Fechando a seção de Artigos, Nilton Costa, Cezar, Mesquita, Antoninho Maurina e José Andrade mostram como um programa de treinamento contínuo de técnicos e produtores rurais, ao longo de 18 anos, tem conseguido reduzir as perdas na colheita de soja, no Brasil, trazendo economia de mais de 16 milhões de toneladas de grãos. O artigo intitula-se "Redução de perdas na colheita da soja: tecnologia ao alcance de técnicos e produtores."

Na seção Debates, Sérgio Leite e Victor Novicki comentam o artigo de Elizabeth Barros e Brancolina Ferreira, "Descentralização e novos arranjos institucionais para agilizar o processo de reforma agrária: novos?". O artigo intitula-se "Reforma do Estado, modernização e questão agrária: observações sobre o processo de descentralização da política de assentamentos rurais". Segue-se a resposta de Barros & Ferreira.

Na seção Resenhas, Mauro Márcio Oliveira comenta o livro de Samir Amin, "Capitalism in the age of globalization: the management of contemporary society", e Gutemberg Guerra comenta "A sociedade, o cientista e o problema de pesquisa", de Ivan Sérgio Freire de Sousa.

Agradecemos, na oportunidade, a todos que contribuíram para que os CC&T cumprissem com esmero e pontualidade a sua missão em 1997: os autores de artigos e resenhas, os pareceristas, os revisores de texto e de referências bibliográficas, o pessoal da produção gráfica e comercialização (Embrapa-SPI), e também o apoio da Diretoria da Embrapa.

Esperamos que o ano de 1998 seja a realização dos sonhos mais caros dos nossos leitores e que a nossa revista, ao atingir a marca histórica de 15 anos de edições ininterruptas, prossiga na sua trajetória de compromisso com a qualidade, para continuar merecedora do respeito e da admiração dos seus leitores.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1997.v14.8976