INTRODUÇÃO

Cyro Mascarenhas Rodrigues

Resumo


Para começo de conversa, um esclarecimento aos leitores dos CC&T. Ainda não foi possível organizar o prometido número temático sobre propriedade intelectual na agricultura. O assunto continua em pauta, com absoluta prioridade, apenas na dependência da oferta de artigos e resenhas sobre o tema. Lamentavelmente, só recebemos, até o presente, um artigo, apesar de nossas inúmeras tentativas junto a especialistas dessa área. Possivelmente, a demora na tramitação da matéria no Congresso Nacional esteja inibindo as iniciativas daqueles que preferem escrever em cima de fatos mais concretos. Entretanto, ainda que respeitando esse comportamento, acreditamos que a oportunidade é igualmente válida para os que desejam firmar as suas posições, inclusive com o intuito de influenciar a decisão dos parlamentares. Fica mais uma vez o desafio.

Outra preocupação que queremos compartilhar com os nossos leitores refere-se à sobrevivência da Revista. Estamos há 14 anos ininterruptos no mercado e com 26 números editados, veiculando as tendências do desenvolvimento científico e tecnológico agropecuário, com ênfase nos aspectos institucionais, sociais, políticos e culturais. Isso não deixa de ser uma façanha para uma revista científica, sobretudo nas condições do Brasil. Entretanto, é preciso ampliar as vendas e, neste particular, esperamos uma resposta positiva dos nossos leitores, garantindo a renovação de suas assinaturas e fazendo um esforço adicional com a indicação de novos assinantes. Por outro lado, estamos iniciando, neste segundo semestre, um trabalho de marketing da revista, na esperança de resolver o seu principal problema na atualidade: circulação e vendas. Temos a certeza de que juntos venceremos esta batalha.

Abrimos esta edição com o artigo de Léa Velho e Paulo Velho "The emergence and institutionalization of agricultural science". O argumento central baseia-se na idéia de que a química agrícola de Liebig ensejou o surgimento das ciências agrárias na esteira das grandes transformações ocorridas no século dezenove, quando emergiram novas teorias e novas instituições científicas. Mas os autores não deixam de assinalar as contribuições da fisiologia vegetal para a compreensão dos processos vitais das plantas e da genética, cuja incorporação nos programas de melhoramento de plantas possibilitou a melhoria dos processos produtivos agrícolas.

Sergio Schneider, em "Da crise da sociologia rural à emergência da sociologia da agricultura: reflexões a partir da experiência norte-americana", nos trás uma contribuição valiosa sobre o "estado da arte" dos estudos sobre o rural nos Estados Unidos. O texto prima pela clareza, objetividade e coerência, revelando-se de grande utilidade para o leitor interessado em entender a dinâmica das ciências sociais da agricultura americana, principalmente aqueles que têm alguma dificuldade em acompanhar o debate diretamente na literatura original.

Em seguida, uma reflexão de como as políticas de ajuste estrutural ensejadas pela inserção dos países no processo de globalização afetam as relações entre Estado, sociedade e economia, levando à redefinição de estratégias individuais e coletivas, através das quais os atores sociais se organizam para enfrentar as crises. O texto de Mônica Bendini e Cristina Pescio, "Expansion y crisis de una agroindustria: globalizacion y resistencia", reflete essa situação a partir do caso de uma região frutícola no norte da Patagônia, Argentina. O estudo é muito oportuno, haja vista a situação parecer reproduzir-se em outras localidades do Cone Sul, inclusive no Brasil.

Em "Orientação institucional e currículo: a gênese do ensino da extensão na Universidade Federal de Viçosa", Maria das Graças Leal e Geraldo Magela Braga nos contam um pouco da trajetória do ensino de Extensão Rural no currículo dos cursos de ciências agrárias, tendo como foco inicial a então Universidade Rural do Estado de Minas Gerais (UREMG). Como surgiu a disciplina, como passou a figurar no currículo mínimo dos cursos de pós-graduação, em que contexto e quais as conseqüências de sua prática, são aspectos abordados nessa análise.

Fechando a seção de Artigos, Renato Linhares de Assis e Dryden Castro de Arezzo retomam a questão da agricultura orgânica, sob o enfoque da difusão de tecnologia, insistindo na virtude dessa prática não apenas com vistas à sustentabilidade ambiental, como também econômica e social. "Propostas para a difusão da agricultura orgânica" tenta demonstrar a viabilidade do modelo orgânico numa perspectiva de mercado, a partir do redirecionamento da política agrícola e da cobrança do que eles denominam "custo ambiental" dos insumos agrícolas industrializados.

Na seção Debates, Maria Elizabeth Diniz Barros e Brancolina Ferreira, em "Descentralização e novos arranjos institucionais para agilizar o processo de reforma agrária", questionam os instrumentos e mecanismos do atual modelo de reforma agrária, preconizando a descentralização das ações até agora sob a responsabilidade da União e do INCRA, em particular. Tal procedimento requer uma definição clara dos papéis dos gestores públicos nas esferas federal, estadual e municipal, e implica, também, a redistribuição dos meios necessários para a implementação do processo, ou seja: patrimônio, recursos financeiros e recursos humanos. Quem imagina que a reorganização institucional e renovação de práticas administrativas propostas têm aceitação plena dos segmentos envolvidos no processo está enganado. Pelo menos é o que se depreende das intervenções de fontes ligadas aos movimentos dos trabalhadores rurais, dos sem-terra e dos técnicos do próprio INCRA, por ocasião da apresentação deste texto em recente "workshop" promovido pelo Cendec/Ipea, em Brasília. O nosso espaço está aberto para o aprofundamento do debate. No próximo número, esperamos apresentar os comentários críticos que nos forem enviados, juntamente com a tréplica das autoras.

Finalmente, na seção Resenhas, Maria Amália Gusmão Martins, a partir da questão: O que há por trás das políticas científicas e tecnológicas dos Estados modernos?, comenta o livro de Amilcar Baiardi: "Sociedade e Estado no apoio à ciência e à tecnologia: uma análise histórica."

Que todos façam bom proveito da presente leitura.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1997.v14.8968