INTRODUÇÃO
Resumo
Apresentamos o segundo número deste ano 15 dos Cadernos de Ciência & Tecnologia. Como sempre, fiel ao nosso compromisso com a pluralidade de idéias e com a abertura de espaço para a discussão das questões mais atuais da problemática científica, tecnológica e do desenvolvimento agrícola. A tal orientação, aliada à qualidade dos textos aqui apresentados, devem ser creditadas as manifestações de apoio e de congratulações que nos têm chegado.
Abrindo esta edição, Vilma Figueiredo relata como foi implantado e desenvolvido o assim chamado sistema de ciência e tecnologia no Brasil. Uma trajetória que desde as origens foi marcada pela nítida presença governamental e que, até meados da década de 90, de acordo com os dados apresentados, coloca o governo federal como principal ator e fonte mais importante de recursos para C&T. Como o século XX foi o de "implantação e expansão quantitativa do sistema", a autora prevê que o próximo século será o da expansão qualitativa mediante critérios mais rigorosos para os investimentos nessa área. Nem só de produção de ciência e tecnologia, porém, vivem as instituições de pesquisa. Ainda que as organizações de pesquisa agropecuária, como a Embrapa, prefiram falar em transferência de tecnologia, conforme se percebe nos seus textos básicos, as questões referentes à difusão e à adoção de tecnologia ainda ocupam muito espaço nas discussões entre especialistas. Os enfoques podem variar conforme as perspectivas das diversas áreas disciplinares - sociologia, comunicação e economia -, mas o tema continua despertando interesse e controvérsia. No caso presente, Eliseu Alves retoma a discussão, apresentando o ponto de vista da análise neoclássica, para a qual a taxa de retorno da inovação, em comparação com as tecnologias anteriormente em uso, assume importância fundamental.
Segue-se o artigo de Sergio Salles Filho e Angela Kageyama, que relatam a experiência do Grupo de Estudos sobre a Organização da Pesquisa - GEOP, da Unicamp, no processo da recente reforma do Instituto Agronômico de Campinas. O texto desperta grande interesse, sobretudo por mostrar como uma instituição centenária - durante muitas décadas foi a principal referência da pesquisa agronômica no Brasil - está se preparando para adaptar-se às grandes transformações mundiais deste final de século, que impõem limitações de gastos estatais e pressões sociais para a melhor utilização dos recursos públicos.
No próximo artigo, assinado por Roque Tomasini e Ivo Ambrosi, temos uma retrospectiva econômica da cultura do trigo no Brasil, que inclui uma abordagem da situação atual e as perspectivas futuras. Destaca-se a importância da tecnologia e a necessidade de reformas na política interna, para que seja reduzido o chamado "custo Brasil", na visão dos autores, o principal responsável pela baixa competitividade do trigo nacional.
Em seguida, Eduardo Afonso Cadavid expõe uma síntese do cenário hidrológico atual da Amazônia brasileira, preocupado essencialmente com a questão do gerenciamento dos recursos hídricos dessa região, à luz da Política Nacional de Recursos Hídricos. Ressalta-se a necessidade de um conjunto de ações estratégicas, com a parceria dos países panamazônicos, harmonizadas e integradas em planos diretores e em programas de gerenciamento e conservação, com vistas a um sistema integrado para o desenvolvimento auto-sustentado.
Na seção Debates, Osmar Muzilli, Pedro Jaime Genú, Wenceslau Goedert e Marcio de Miranda Santos apresentam "Desenvolvimento no enfoque de P&D", um texto que já foi exposto e debatido na maioria das unidades de pesquisa da Embrapa, desde a sua concepção original. Seu principal objetivo é "consolidar o conceito de desenvolvimento (o D do P&D), definir uma estratégia operacional e indicar os requisitos necessários para implementar o processo, em bases proativas", como assinalam os autores. Esperamos que no próximo número possamos veicular as eventuais apreciações críticas ao texto, acompanhadas da réplica dos autores, como já é uma tradição desta seção dos CC&T. Finalmente, na seção Resenhas, Olívio A. Teixeira comenta o artigo de Bruno Latour, "Esquisse d'un parlement des choses", publicado na revista "Ecologie Politique", e Mauro Márcio Oliveira comenta "Os últimos combatentes", livro de Robert Kurtz, editado pela Vozes.
Agrademos a todos os colaboradores deste número e desejamos aos nossos leitores um bom proveito da leitura.
Palavras-chave
DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1998.v15.8934