INTRODUÇÃO

Cyro Mascarenhas Rodrigues

Resumo


Este número dos Cadernos de Ciência & Tecnologia tem um significado muito especial: ele abre o ano 15 da Revista, que coincide com os 25 anos da Embrapa. Para chegar até aqui foi trilhado um longo caminho, marcado por muito esforço e dedicação daqueles que sempre acreditaram no sucesso do empreendimento. Os CC&T atingem a marca de 15 anos de edições ininterruptas, conseguindo manter o mesmo padrão de qualidade que sempre caracterizou a Revista desde o primeiro número, modéstia à parte. Sem dúvida, isso é uma façanha no mercado editorial científico brasileiro, marcado por excelentes iniciativas, mas nem sempre bem sucedidas, afetadas pela descontinuidade.

Não pretendemos aqui fazer uma retrospectiva histórica dos CC&T, porquanto a faremos no número temático especial (Propriedade Intelectual na Agricultura) comemorativo dos 15 anos da revista, que em breve estará circulando. Mas desde já homenageamos os responsáveis pela iniciativa e os que acreditaram nela, oferecendo os meios para o seu lançamento, em 1984, com o nome de Cadernos de Difusão de Tecnologia. Referimo-nos a Ivan Sergio Freire de Sousa, o idealizador, que na época coordenava a Área de Estudos do Departamento de Difusão de Tecnologia (DDT); a Ubaldino Dantas Machado, chefe do DDT, que apoiou com entusiasmo a idéia; e a Eliseu Alves, então presidente da Embrapa, que aprovou a execução do projeto. Orgulhamo-nos de ter participado dessa experiência, inicialmente como Editor de Resenhas. Agora, na condição de Editor-chefe, é maior a nossa satisfação ao apresentarmos o primeiro número do volume 15.

O primeiro artigo traz uma contribuição metodológica importante para os leitores que se preocupam com a questão da priorização na alocação de recursos para a pesquisa agropecuária. Os autores, Elísio Contini, Antonio Flavio Dias Avila e Francisco Basílio de Souza, reconhecem a necessidade da forte presença do Estado nesse tipo de trabalho, mas acentuam que a concentração das atividades em projetos essenciais para o desenvolvimento é um imperativo, diante da escassez de recursos. O estabelecimento de prioridades em produtos, áreas de conhecimento e linhas de pesquisa é uma ação que demanda análises prévias criteriosas. Daí a intenção dos autores de subsidiar os interessados no problema com opções metodológicas atualmente em uso, respaldados em exercício empírico de priorização que os mesmos desenvolveram, tendo como instrumento de análise um projeto de pesquisa da área agrícola.

Segue-se um estudo comparativo do processo de geração e adoção de tecnologia, enfocando dois produtos trabalhados pela Embrapa na região dos cerrados: os casos da cenoura 'Brasília' e da soja 'Doko'. O artigo é de autoria de Manoel Moacir Costa Macedo e é parte do seu trabalho de tese de doutorado. Ele salienta que, a despeito de os dois casos apresentarem semelhanças quanto ao sucesso das variedades lançadas e adotadas pelos agricultores, eles se diferenciam num aspecto básico quanto ao processo de geração: a cenoura 'Brasília' foi resultado de um processo interativo entre pesquisadores, extensionistas e produtores, enquanto a soja 'Doko' foi um caso típico de geração de tecnologia dentro de uma organização de pesquisa para "oferta e transferência".

Lucas Frazão Silva e José Guilherme Cortez comparecem com uma análise das transformações ocorridas na cafeicultura brasileira, a partir de 1960, principalmente com respeito aos efeitos das inovações tecnológicas voltadas para a produtividade da lavoura. A principal conclusão a que chegaram é de que o modelo tecnológico introduzido, apesar de lograr êxitos indiscutíveis na redução de custos e aumento da produtividade, não teria propiciado ganhos de qualidade do produto. É que as variedades introduzidas não apresentam uniformidade de maturação, tendo como conseqüência a produção de grãos defeituosos e de sabor desagradável, em alta porcentagem.

Os próximos artigos ocupam-se da questão ambiental, sob dois enfoques diferentes: Tarcízio Rego Quirino e Luiz J. M. Irias, atentos aos impactos da globalização sobre a agricultura e o meio ambiente, insistem na colocação dessa temática na agenda de discussões sobre as políticas agropecuárias e, em particular, no processo de planejamento da pesquisa. Reportam-se à pesquisa por eles desenvolvida no Centro Nacional de Pesquisa de Monitoramento e Avaliação do Impacto Ambiental, da Embrapa, utilizando a técnica de Delphi, e apresentam algumas conclusões. Uma delas destaca que a legislação que dará suporte à mudança do paradigma produtivista para o paradigma ambientalista não pode prescindir do componente de eqüidade social, que por sua vez extrapola a questão da posse dos meios de produção e divisão de lucros, incluindo o problema da divisão desigual dos riscos ecológicos e da qualidade de vida. O artigo de Antônio Maciel Botelho Machado aborda a questão da educação ambiental para o desenvolvimento sustentável em assentamentos rurais. O principal argumento reforça a idéia de que é preciso trabalhar com as representações sociais dos assentados, para que os projetos de educação ambiental se comprometam em fortalecer a autonomia e a participação desses atores e com "a busca de modelos agrossilvopastoris alternativos e mais sustentáveis".

Na seção Debates, Ricardo Abramovay resgata criticamente a discussão de uma nova abordagem de extensão rural para a agricultura familiar, a partir de marcos éticos, filosóficos e conceituais, confrontados com posições de organizações públicas e privadas que atuam no setor. O texto reflete a participação do Autor em Seminário Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, realizado em Brasília, em 1997.

Finalmente, na seção Resenhas, Antônio Teixeira de Barros comenta o livro "A alavanca de Arquimedes: ciência e tecnologia na virada do século", organizado por Fernanda Sobral, Maria Lúcia Maciel e Michelângelo Trigueiro.

Esperamos que os leitores se sintam recompensados pela leitura.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1998.v15.8926