INTRODUÇÃO

Cyro Mascarenhas Rodrigues

Resumo


Este número fecha o volume 16, de 1999, dos Cadernos de Ciência & Tecnologia. Um ano de incerteza, marcado por muita discussão na comunidade acadêmica brasileira, principalmente quanto ao futuro da Ciência & Tecnologia no Brasil, afetadas por cortes orçamentários sucessivos.

Ao que parece, uma preocupação compartilhada pela diretora do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), Sakiko Fukuda-Parr, quando adverte, como informa a Gazeta Mercantil, edição de 16/09/99, que os países que gastam apenas 0,5% de seu Produto Interno Bruto (PIB) com pesquisa e desenvolvimento, a exemplo da Argentina e do Brasil, correm o risco de ficar marginalizados no mundo globalizado.

O governo brasileiro tem uma séria responsabilidade de fazer reverter esse quadro, já que o desenvolvimento da capacidade científica do país é um dever fundamental do Estado que, também, deve apoiar o desenvolvimento e a inovação tecnológica, agindo, neste particular, de forma supletiva à iniciativa privada.

Outro assunto que repercutiu neste último quadrimestre foi a publicação do levantamento realizado pela Folha de São Paulo, edição de 12/09/99, que apontou os 494 cientistas brasileiros de maior influência na pesquisa mundial, ou seja, aqueles mais citados de acordo com os registros do ISI (Institute for Scientific Information). Johanna Döbereiner, pesquisadora da Embrapa Agrobiologia, figura na lista de Bioquímica, com 2.796 citações, como a mais bem colocada entre os seus pares.

A expressiva contribuição da pesquisa realizada por Johanna Döbereiner e sua equipe, no campo da fixação biológica de nitrogênio, é utilizada como exemplo ilustrativo do artigo "Publicações científicas e avanços tecnológicos: resultados associados do Quadrante de Pasteur" que abre a presente edição. O artigo, assinado por Maria Amália Gusmão Martins, discute o modelo de Donald Stokes, conhecido como Quadrante de Pasteur, criado para possibilitar uma compreensão ampla e estruturada do relacionamento entre pesquisa básica e pesquisa aplicada como fases distintas do processo de produção do conhecimento científico e tecnológico.

Em seguida, Antonio de Freitas Filho, Maria Lúcia D'Ápice Paez e Wenceslau J. Goedert apresentam uma análise comparativa dos processos de planejamento estratégico adotados pelo The Agricultural Research Service (ARS), do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e pela Embrapa. O artigo "Planejamento estratégico em organizações públicas de P&D em agropecuária: Brasil e Estados Unidos da América" evidencia que o ARS e a Embrapa adotaram posturas semelhantes na busca de respostas às questões-chave: quais as necessidades de C&T no futuro e como se preparar para atendê-las? - a despeito dos diferentes níveis de formação cultural e política, e de desenvolvimento econômico e social dos dois países.

Os artigos seguintes estão vinculados à temática ambiental, sob três diferentes enfoques: econômico, sociológico e agronômico.

Jorge Madeira Nogueira e Marcelino Antonio Asano de Medeiros em "Quanto vale aquilo que não tem valor? Valor de existência, economia e meio ambiente" abrem uma discussão que, segundo eles, não tem encontrado espaço no raciocínio econômico, ou seja: a idéia de valorar algo que não é diretamente "consumido". Aqui eles trabalham aspectos conceituais, metodológicos e empíricos a serem levados em conta ao se estimar valor de existência de bens e serviços ambientais. Ainda que reconheçam as sérias dificuldades e limitações que sugerem alguma cautela na efetivação desses cálculos, eles concluem que um processo de tomada de decisões na implementação de políticas públicas e de decisões judiciais não pode prescindir de estimativas de valor de existência.

Trabalhando a perspectiva teórico-metodológica da sociologia ambiental, Júlia S. Guivant e Claudio Miranda relatam os resultados de um estudo de caso pesquisado na região oeste de Santa Catarina. O artigo intitulado "As duas caras de Jano: agroindústrias e agricultura familiar diante da questão ambiental" mostra como a poluição ambiental causada por dejetos de suínos é entendida, interpretada e apresentada como objeto das estratégias dos atores sociais envolvidos nesse fenômeno. Para tanto, foram identificadas três etapas do problema ambiental na região: a emergência da percepção do problema, a legitimação de tal percepção como algo relevante e as aparentes soluções emergentes, cuja implementação não pareceu modificar nem as causas nem as conseqüências da poluição ambiental por dejetos de suínos, conforme afirmam os autores.

Por último, Milton Antonio Seganfredo aborda o mesmo problema, com a lente de um especialista em ciência do solo. Em "Os dejetos de suínos são um fertilizante ou um poluente do solo?" ele procura demonstrar, baseado em resultados de pesquisa e em apreciável revisão de literatura, que a utilização indiscriminada de tais dejetos como fertilizante do solo, pode deixar resíduos poluentes prejudiciais ao meio ambiente, contrariando o enfoque dos textos clássicos segundo os quais os dejetos animais são matéria orgânica irrestritamente benéfica ao solo.

Na seção Debates, Eliseu Alves tece comentários críticos ao texto de Polan Lacki, veiculado no número anterior dos CC&T, intitulado: "O que pedem os agricultores e o que podem os governos: mendigar dependência ou proporcionar emancipação?". Segue-se a réplica de Polan Lacki.

Na seção Resenhas, José Pereira da Silva com "A pluriatividade da agricultura familiar na integração entre o meio rural e o meio urbano" comenta o livro de Sergio Schneider: "Agricultura familiar e industrialização" editado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Finalmente, resta agradecer aos que prestigiaram esta e as demais edições do volume 16 dos Cadernos de Ciência & Tecnologia, no ano de 1999. Incluímos aqui autores, pareceristas, revisores, pessoal da composição, produção e circulação, e os nossos leitores, em particular. Registramos também um agradecimento especial a Levon Yeganiantz, membro do nosso Conselho Editorial e editor-convidado do número especial comemorativo dos 15 anos de CC&T, pela expressiva colaboração nos momentos mais difíceis de nossa peleja.

A todos o nosso reconhecimento sincero e o desejo de que o ano 2000 inicie uma nova era de prosperidade e paz.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1999.v16.8902