INTRODUÇÃO

Cyro Mascarenhas Rodrigues

Resumo


Os primeiros meses deste ano foram marcados pela pior crise econômica vivida pelo País, desde o Plano Real, com reflexos inevitáveis no plano científico e tecnológico. As tentativas governamentais de ajuste das contas públicas resultaram em cortes e contingenciamentos de recursos orçamentários que afetaram todos os programas, incluindo os de pesquisa agropecuária.

Como as crises trazem também oportunidades para o exercício da criatividade e proposição de novas saídas, a Embrapa reagiu estrategicamente, implantando, neste início de ano, o seu III Plano Diretor (1999-2003). Esse Plano reordena as ações prioritárias da empresa, tendo como base: a abertura de mercado imposta pela globalização da economia, a importância do meio ambiente, a reforma do Estado, a força do consumidor e a revolução tecnológica.

Em abril, a Embrapa definiu, também, a sua posição quanto ao desenvolvimento de organismos geneticamente modificados (OGMs), por meio da engenharia genética, um tema que está na pauta das discussões acadêmicas atuais e que vem ganhando muito espaço na mídia. Dada a relevância do assunto, abrimos a presente edição com o documento emanado da Diretoria Executiva da empresa "Resumo da posição da Embrapa sobre plantas transgênicas".

Na seção de artigos, Francisco de Assis Costa parte de uma análise institucional da Ciência & Tecnologia agropecuária na Amazônia para verificar até que ponto existe convergência entre a produção de C&T e a dinâmica real da agropecuária na região. O estudo focaliza dois ambientes institucionais: o finalista - onde se destacam os centros de pesquisa da Embrapa - e o universalista, incluindo o Museu Emílio Goeldi, o Instituto de Pesquisa da Amazônia - INPA e as universidades federais. Ao final são apresentadas algumas considerações julgadas importantes a respeito das mudanças em andamento e das perspectivas da C&T na região.

Segue-se o artigo de Jean-Paul Billaud e Lucimar Santiago de Abreu: "A experiência social de risco ecológico como fundamento da relação com o meio ambiente". Os autores propõem quatro modelos de análise da relação entre o nível técnico dos agricultores e a sensibilidade a riscos ambientais, que podem ser úteis ao se definirem metas em políticas de desenvolvimento sustentável. A base empírica da proposta é dada por estudos realizados em Guaíra, interior de São Paulo, que avaliaram a percepção do risco ambiental entre agricultores, pelo confronto das práticas tecnológicas em uso com as representações destes sobre o meio ambiente.

O próximo texto de Sidnei Gonçalves, "Avanço da mecanização da colheita e da exclusão social na produção canavieira paulista nos anos 90", retoma uma questão que tem empolgado os críticos dos efeitos perversos da modernização da base técnica da agricultura brasileira. Além de pregar a necessidade de "políticas sociais compensatórias" para amenizar as dificuldades de tantos excluídos do processo produtivo com a mecanização da colheita da cana-de-açúcar, o autor esboça duas sugestões de políticas públicas de cunho produtivo, que no seu modo de ver, também, podem aliar eficiência e progresso técnico em áreas de lavoura de tamanho médio.

Temos ainda um estudo localizado, nem por isso menos interessante, que focaliza a outra ponta da cadeia de hortifrutícolas - o consumidor. Maria da Conceição P. da Fonseca, Maria Aparecida A. P. da Silva e Elizabete Salay relatam os resultados de uma pesquisa realizada na cidade de Campinas, SP, que mostra o comportamento diferenciado de escolha de produtos pelos consumidores, em hipermercados e feiras livres. Embora os resultados obtidos não possam ser extrapolados para o universo de consumidores do município de Campinas, por limitação de ordem amostral, o estudo é relevante, principalmente se considerarmos a escassez de informações disponíveis sobre a atitude dos consumidores em sua relação com o comércio varejista do setor de alimentos.

Fechando a seção de artigos Rui Veloso e Homero Chaib Filho propõem uma modelagem de avaliação econômica e social de sistemas agrossilvipastoris nos cerrados. Tal estrutura incorpora componentes a exemplo de: previsão de preços, produtividade de cultivos alternativos e outros fatores que permitam a avaliação ex-ante de custos-benefícios desses sistemas com vistas ao desenvolvimento rural integrado.

Na seção Debates, Ricardo Pinto Ribeiro submete aos leitores dos CC&T o texto: "Reestruturação da pesquisa agropecuária pública: evolução recente e perspectivas". O trabalho é uma revisão de conhecimentos sobre a temática, com o propósito de estimular o debate sobre a questão que, nos últimos anos, tem sido objeto de muito discurso e pouca definição operacional no âmbito da propalada reforma do setor público brasileiro.

Na seção Resenhas, Léa Velho comenta o livro de Paolo Palladino "Entomology ecology and agriculture" e Gutemberg Guerra, o livro de Anne Le Borgne-David, "Les migrations paysannes du Sud du Brésil vers l'Amazonie: le salariat plutôt que la malaria".

Esperamos que esta seleção seja de pleno agrado dos nossos leitores. Para o próximo número prometemos abrir espaço para homenagear um dos mais renomados cientistas brasileiros, Carlos Chagas, quando se comemoram 90 anos da descoberta da doença de Chagas (Tripanosomiase americana), uma endemia ainda presente em nosso meio rural. Até lá e boa leitura.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct1999.v16.8884