INTRODUÇÃO

Cyro Mascarenhas Rodrigues

Resumo


Este número inicia o volume 17 dos Cadernos de Ciência & Tecnologia, do último ano do milênio, reforçando a nossa expectativa de prosseguir o empreendimento editorial com o mesmo padrão de qualidade que o projetou como referência na área de ciências sociais no Brasil.

Abrindo a edição, Clayton Campanhola e José Graziano da Silva nos trazem "Desenvolvimento local e democratização dos espaços rurais". Eles trabalham com muita competência a tendência analítica de "um novo rural brasileiro" que questiona a separação tradicional dos espaços rural e urbano, a partir da presença, cada vez mais forte no "meio rural", de atividades tipicamente urbanas dos setores industrial e de serviços. Conceitos como globalização, pluriatividade, descentralização, participação e sustentabilidade são marcos desse enfoque alternativo para uma proposta de desenvolvimento local. Essa acepção "local" não apenas tem conotação física e geográfica, mas considera as várias formas de integração e relações de troca entre segmentos espaciais e setores de atividades. Nas conclusões, os autores sugerem propostas com o propósito de neutralizar os entraves que consideram impeditivos à inclusão do desenvolvimento local no conjunto de uma política nacional de desenvolvimento rural.

Considera-se, no entanto, que a formulação de uma boa política de desenvolvimento rural sustentável não pode prescindir de base científica sólida para viabilizar o monitoramento das ações estratégicas e mensurar o grau de sustentabilidade do conjunto de fatores econômicos, sociais e ambientais, entre outros. Surge então o interesse, cada vez maior, da comunidade científica, em desenvolver indicadores de sustentabilidade que ofereçam uma margem de confiança e credibilidade para esse tipo de avaliação.

Dentro dessa linha temática, Katia Marzall e Jalcione Almeida relatam o resultados de uma pesquisa que analisou 72 programas sobre indicadores de sustentabilidade desenvolvidos por organizações de pesquisa, universidades ou indivíduos. O artigo, "Indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas: estado da arte, limites e potencialidades de uma nova ferramenta para avaliar o desenvolvimento sustentável" revela, entre outras coisas, que não existe em nenhum desses programas a definição de indicadores de aplicação imediata pelos produtores rurais e/ou técnicos. Os pesquisadores e os formuladores de políticas públicas têm sido os principais usuários de tais indicadores.

No próximo artigo, "Proteção de plantas na agricultura sustentável", Raquel Ghini e Wagner Bettiol questionam o controle fitossanitário tradicional. Ainda que admitindo a impossibilidade de se praticar, na forma absoluta, o conceito de agricultura sustentável, eles asseguram que o manejo adequado dos recursos naturais, dentro do enfoque holístico, "observando ciclos, trabalhando com sistemas e respeitando as interrelações e proporções" é uma alternativa plausível de proteção às plantas, evitando os inconvenientes da degradação ambiental.

Em seguida, temos "Situação atual da participação das hortaliças no agronegócio brasileiro e perspectivas futuras", de autoria de Nirlene Junqueira Vilela e Gilmar Paulo Henz. Eles nos mostram o peso da contribuição dos principais produtos olerícolas no desempenho da nossa economia, em 1998. Vale salientar que o agronegócio de hortaliças, segundo os autores, pode gerar de três a seis empregos diretos, por hectare, e um número igual de empregos indiretos. Considerando-se que naquele ano a área ocupada com hortaliças foi de 778 mil hectares, é inquestionável a importância social dessa atividade, num país que está sofrendo as conseqüências do desemprego, para não falar dos efeitos perversos da alta concentração de renda.

Fechamos a seção de artigos com "Aspectos conceituais do sistema agrário do Vale do Tocantins Colonial", de Maria de Nazaré Angelo-Menezes. Estamos diante de uma abordagem histórico-antropológica que procura entender o sistema agrário do Vale do Tocantins, modelado por instituições coloniais e pela economia mercantil, dentro de uma perspectiva interdisciplinar que compreende a análise da interação de dois subsistemas: o biológico e o sociocultural. Esse sistema agrário, na avaliação da autora, guarda, nos dias atuais, muitos traços da exploração predatória dos recursos naturais, tendo por conseqüência a rápida depredação do ecossistema da Amazônia.

Na Seção de Debates, Tarcízio Rego Quirino e Manoel Moacir Costa Macedo submetem aos leitores dos Cadernos de Ciência & Tecnologia "Impacto social da tecnologia agropecuária: construção de uma metodologia para o caso da Embrapa". Na verdade, trata-se de um "position paper" discutido no Workshop sobre Metodologias de Avaliação de Impacto Econômico, Social e Ambiental da Pesquisa Agropecuária, realizado em fevereiro de 2000, com vistas a elaborar uma proposta metodológica para a sua implantação na empresa.

Na Seção de Resenhas, Manoel Moacir Costa Macedo comenta "O capitalismo global", de Celso Furtado.

Esperamos que a seleção deste número seja do agrado dos nossos leitores.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct2000.v17.8859