INTRODUÇÃO

Cyro Mascarenhas Rodrigues

Resumo


Ultimamente, cresce nos meios científicos forte reação contra as grandes corporações privadas detentoras do domínio da informação científica. Alega-se que a maioria dos artigos veiculados em seus periódicos resultam de pesquisas científicas custeadas por recursos públicos, mas o acesso a eles fica limitado aos que podem pagar os altos preços das assinaturas. Neste particular, repercutiu muito na Europa, e aqui também, uma reportagem de James Meek no jornal britânico The Guardian, de 26 de maio deste ano, dando conta de um boicote de pesquisadores científicos a editores que se recusarem a liberar os artigos de seus periódicos na internet, seis meses após a edição original. Na oportunidade, noticiava que 800 pesquisadores britânicos se juntaram a outros 22 mil de 161 países, em favor do movimento que se propaga rapidamente via internet. Enquanto escrevíamos a presente introdução, recebemos uma mensagem eletrônica assinada por Michael Ashburner, da Universidade de Cambridge, e mais nove cientistas das Universidades de Stanford, Berkeley e New England, líderes do movimento em prol da "Public Library of Science Iniciative", afirmando que as adesões já incluem 26 mil pesquisadores de 170 países.(1)

Não há melhor momento para anunciar que os Cadernos de Ciência & Tecnologia estão disponíveis online, de forma completa, no site www.sct.embrapa.br. No primeiro momento foram disponibilizados os números do volume 18, ano 2001. Os próximos números serão liberados à medida que forem editados. As edições anteriores serão disponibilizadas, progressivamente, até que se complete a coleção. Assim fazendo, os Cadernos de Ciência & Tecnologia acompanham a tendência moderna, comprometendo-se com a democratização da informação, a despeito de o valor de sua assinatura ter sido, até então, praticamente simbólico.

Feitas essas considerações, passemos ao conteúdo deste número.

O tema de abertura é a reorganização estrutural das instituições públicas de pesquisa, para enfrentar os desafios impostos pela reforma do Estado na era da globalização. Sergio Luiz Monteiro Salles-Filho, Sônia Regina Paulino e Sergio Medeiros Paulino de Carvalho analisam os casos da Embrapa e da Fiocruz que procederam a reformas expressivas no seus modelos institucional e operativo para adaptarem-se à nova situação e às exigências do ambiente externo. São duas trajetórias institucionais bastante diferenciadas, mas que refletem a mesma tendência: a busca da competitividade que, por sua vez, exige maior capacidade de gerar e captar recursos financeiros, agilidade e flexibilidade no atendimento das demandas externas, e a percepção das tendências do seu entorno científico, econômico, social e político. As duas instituições são analisadas comparativamente, a partir de um levantamento de dados e informações abrangendo o período de 1995 a 1998.

Segue-se o artigo de Terry K. Marsden e Josefa Salete Barbosa Cavalcanti, "Globalisation, sustainability and the new agrarian regions: food, labour and environmental values". Eles afirmam que as mudanças sociais e a sustentabilidade dos novos espaços agrários não podem ser compreendidas fora da arena política onde atores sociais constroem as suas interpretações e valores sobre alimentos, trabalho e meio ambiente. O referencial empírico são duas áreas consideradas entre as de maior dinamismo da agricultura nordestina: o Vale do São Francisco e o Vale do Açu. A conclusão principal mostra que a sustentabilidade do sistema produtivo de base tecnológica superintensiva, atualmente em prática, está ameaçada, em razão de riscos sociais e ambientais na produção e oferta de alimentos.

O artigo seguinte é de Clayton Campanhola e Pedro José Valarini "A agricultura orgânica e seu potencial para o pequeno agricultor". Os autores, depois de apresentarem uma introdução conceitual que particulariza a agricultura orgânica no conjunto das chamadas agriculturas alternativas, informam sobre a situação atual e perspectivas do mercado, bem como sobre possíveis vantagens e limitações dessa prática no contexto dos pequenos agricultores. A grande procura de alimentos mais saudáveis nos mercados consumidores externo e interno tem conferido uma importância sem precedente a esse tema. Tanto assim que o Conselho Editorial dos Cadernos de Ciência & Tecnologia recomendou, em sua última reunião, a edição de um número temático sobre Agricultura Orgânica. A recomendação será implementada no próximo ano. Fica a chamada para os autores que desejarem participar dessa edição. Os artigos, textos para debate e resenhas devem ser encaminhados até o fim de dezembro.

A questão da sustentabilidade na atividade agrícola é enfocada no artigo de Waldecy Rodrigues, Jorge Nogueira e Denise Imbroisi intitulado "Avaliação econômica da agricultura sustentável: o caso dos cerrados brasileiros". Trata-se de um estudo comparativo das técnicas de plantio direto e convencional nos cerrados brasileiros, analisadas do ponto de vista privado e social. São tomados como unidade de análise os cultivos de soja e milho. No caso do milho, a conclusão aponta vantagens do plantio direto, tanto para o produtor individual, haja vista o menor custo de produção, quanto para a sociedade, em razão da redução dos impactos ambientais negativos. No caso da soja, os resultados foram diferentes: aceita-se a hipótese de que o plantio direto reduz os custos sociais, mas eleva os custos privados dos produtores rurais.

O artigo seguinte, "Aumento de produtividade e exportação: uma análise exploratória", relata os resultados de um estudo realizado por Antonio Salazar P. Brandão sobre o impacto de aumentos da produtividade na agricultura brasileira, ressaltando aspectos relacionados com a competitividade do setor. Utilizando o modelo analítico denominado General Trade Analysis Package - GTAP - o autor apresenta fortes evidências de uma associação entre os ganhos expressivos de produtividade da terra e o aumento das exportações de produtos agrícolas. As curvas de aumento da produtividade e das exportações também coincidem, no período analisado de 1973 a 1997, com o crescimento dos investimentos em pesquisa agropecuária, notadamente após a criação da Embrapa. O estudo conclui que a manutenção da competitividade da agricultura brasileira vai depender, além da pressão contra o protecionismo praticado pelos nossos competidores, da necessidade de aumentar os investimentos públicos e privados em pesquisa agropecuária.

Na seção Debates, Ivan Sérgio Freire de Sousa, em "Novamente a difusão de tecnologia: o chamado de Eliseu Alves", e Benami Bacaltchuk, em "Comentário sobre o que fazer antes de difundir a tecnologia", discutem o texto de Eliseu Alves veiculado, nessa mesma seção, na edição anterior dos CC&T. De posse desses comentários, o autor do texto inicial não julgou necessária a réplica, limitando-se a uma curta mensagem que transcrevemos em "Nota do Editor", após os comentários de Sousa e Bacaltchuck.

Na seção Resenhas, Manoel Moacir Macedo comenta o livro "O Posseiro da fronteira: campesinato e sindicalismo no Sudeste Paraense" de Gutemberg Guerra, e Danilo Nolasco C. Marinho comenta "Desenvolvimento como liberdade", de Amartya Sen.

Para concluir queremos agradecer aos que ajudaram a manter acesa a chama dos Cadernos de Ciência & Tecnologia neste ano de 2001. Referimo-nos aos que colaboraram com a submissão de artigos, aos que graciosamente emitiram pareceres técnicos para assegurar a qualidade dos trabalhos veiculados, ao Conselho Editorial, enfim a todos que anonimamente contribuem na produção editorial. Esperamos ser merecedores dessa mesma confiança e dedicação no próximo ano, que será o ano 19 dos CC&T.

Cyro Mascarenhas Rodrigues Editor Técnico


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct2001.v18.8848