INTRODUÇÃO

Maria Amalia Gusmão Martins

Resumo


No momento em que este número dos Cadernos de C&T estava sendo encaminhado para impressão, deixou-nos o Dr. Jairo Silva, membro do Corpo Editorial desta revista desde a primeira edição, em 1984. Faleceu no último 2 de maio, após um longo período de luta e tratamentos contra uma doença ainda hoje incurável.

Nascido em 13 de agosto de 1932, na cidade de Lavras, Jairo Silva cursou agronomia na Escola Superior de Agronomia de Lavras e iniciou sua vida profissional no então Instituto Agronômico de Minas Gerais, logo graduando-se também em biologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, no período de sua permanência em Belo Horizonte. Como pesquisador do Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária - DNPEA -, trabalhou primeiramente no Instituto de Pesquisa e Experimentação Agrícola do Centro-Oeste - Ipeaco -, em Sete Lagoas, MG, atual Embrapa Milho e Sorgo, mudando-se depois para Brasília, por ocasião da criação da Embrapa. Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Esalq -, e Ph.D. em Citogenética e Melhoramento de Plantas pela Iowa State University (EUA), Jairo Silva foi chefe da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e, na sede da Empresa, foi chefe do Departamento Técnico-Científico. Ao falecer, era diretor-presidente da Fundação Dalmo Giacometti, cargo que ocupava desde a criação da mesma, em 1993. Como muitos homens de ciência de sua geração, além de suas atividades como pesquisador e agrônomo, cultivava o gosto pela leitura e pela música, tendo estudado piano durante 8 anos.

Os últimos números dos Cadernos de C&T tiveram a sua leal colaboração, seja como parecerista, como resenhista ou como consultor eventual, sempre pronto a esclarecer as dúvidas técnicas e as questões de zelo desta editora, que não hesitava em recorrer à sua larga experiência de pesquisador e bom conhecedor da dinâmica de funcionamento da pesquisa nacional e internacional nas áreas relacionadas à agricultura.

Fica registrada aqui a nossa homenagem.

Neste primeiro número de 2004, os Cadernos de C&T voltam ao tema da avaliação de efeitos de culturas geneticamente modificadas sobre o meio ambiente, o qual foi objeto de uma resenha assinada por Jairo Silva - sobre o livro Environmental effects of transgenic plants: the scope and adequacy of regulation - publicada no segundo número do volume 20, em 2003. O trabalho que ora publicamos é uma acurada revisão produzida por pesquisadores brasileiros e centrada nos efeitos da deposição, no solo, de DNA e proteínas veiculados por plantas transgênicas. Tais efeitos são analisados enquanto influentes sobre a entomofauna e sobre o ecossistema solo como um todo e, particularmente, sobre a microbiota e proteínas do solo, bem como suas possíveis interferências nos processos biológicos ali desenvolvidos. Em Interferências no agrossistema e riscos ambientais de culturas transgênicas tolerantes a herbicidas e protegidas contra insetos, José Oswaldo Siqueira, Isabel Cristina de Barros Trannin, Magno Antônio Patto Ramalho e Eliana Maria Gouvea Fontes analisam as possíveis alterações causadas por cultivos transgênicos no agrossistema, discutem-nas e ilustram a exposição com uma vasta gama de figuras e modelos bastante didáticos, elaborados pelos autores e baseados na farta literatura consultada.

Na literatura sobre modelos de inovação, dois elementos estão sempre presentes: o processo de P&D, em suas diversas etapas, e os fatores determinantes dessas etapas, ou seja, aqueles originados nos contextos macro, meso ou micro do processo de inovação. A literatura sobre gestão tecnológica apresenta modelos de gestão que destacam as variáveis relativas à gestão de portfólio e à gestão de pesquisa em rede como sendo as mais relevantes para os modelos de gestão de última geração. A proposta apresentada por Suzana Maria Valle Lima, Antônio Maria Gomes de Castro, Jairo Eduardo Borges-Andrade e José Ruy Porto de Carvalho no artigo Inovação e gestão tecnológica em organizações de P&D: um modelo integrador integra essas duas literaturas, procurando enfatizar a relevância de variáveis de gestão tecnológica como determinantes importantes, ao longo do processo de inovação tecnológica.

O artigo Gestão da biodiversidade e produção agrícola: o Cerrado goiano, de Eliane Maria de Oliveira e Laura Maria Goulart Duarte, oferece ao leitor uma reflexão sobre os processos e políticas ambientais e de gestão da biodiversidade relacionadas ao ecossistema do Cerrado em Goiás. O trabalho discute as formas políticas de estímulo à ocupação do Cerrado, as formas usuais de ocupação, a gestão ambiental e da diversidade, ao mesmo tempo em que resgata aspectos culturais e históricos peculiares do Estado de Goiás para compreender as relações entre esses elementos e suas possíveis formas de interação para elaboração de políticas públicas ambientais e de gestão da biodiversidade local, sob um enfoque de desenvolvimento sustentável.

Análise do processo de conversão de sistemas de produção de café convencional para orgânico: um estudo de caso, assinado por Renato Linhares de Assis e Ademar Ribeiro Romeiro, apresenta um estudo realizado com cafeicultores orgânicos ligados à Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil -Acob -, no qual analisam-se os fatores econômicos e políticos que condicionam a evolução de sistemas orgânicos de produção de café no Brasil, destacando a importância das políticas públicas no processo de difusão da cafeicultura orgânica como cultura viável para a agricultura familiar.

Em Sistema agroalimentar brasileiro e biotecnologia moderna: oportunidades e perspectivas, André Yves Cribb faz um exame dos diferentes aspectos do contexto brasileiro que influenciam a expansão das biotécnicas. Para isso, caracteriza os desafios do sistema agroalimentar brasileiro em relação ao processo de globalização dos mercados e intensificação dos fluxos internacionais de tecnologia e discute as potencialidades da biotecnologia moderna, indicando as possibilidades de seu uso e analisando as condições científicas e tecnológicas do Brasil de promover e sustentar o processo de geração e uso de biotécnicas.

Fechamos este primeiro número de 2004 com a resenha do livro Mudança Organizacional: teoria e gestão, organizado por Suzana Maria Valle Lima e publicado pela Fundação Getúlio Vargas em 2003. A resenha é assinada por Mireya Valencia Perafán.

À altura de seu vigésimo primeiro volume, e portanto no limiar de sua terceira década de existência, a revista Cadernos de Ciência & Tecnologia continua a buscar entre seus colaboradores contribuições capazes de enriquecer o debate sobre o desenvolvimento rural e as atividades agropecuárias, notadamente sobre o papel da ciência e da tecnologia, bem como de suas instituições, nos processos de desenvolvimento, em seus vários níveis e dimensões.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct2004.v21.8717