INTRODUÇÃO

Maria Amalia Gusmão Martins

Resumo


Condensamos neste número único as segunda e terceira edições anuais do Volume 23 dos Cadernos de C&T. À semelhança de tantos outros periódicos técnico-científicos nacionais, a revista teve a sua periodicidade interrompida, mas agora ressurge com o lançamento deste número e, logo em seguida, dos números correspondentes ao Volume 24.

Foram inúmeras as manifestações de apoio vindas de equipes e núcleos de estudos vinculados a instituições várias, sobretudo de universidades, de técnicos atuantes nas mais diversas áreas e, naturalmente, de técnicos e pesquisadores da própria Embrapa. O fato é que autores, colaboradores e leitores, preocupados com o aparente desaparecimento da revista, enviaram e-mails, telefonaram ou nos visitaram pessoalmente quando de eventuais passagens por Brasília. Posteriormente, já retomados os trabalhos de edição, recebemos outras inúmeras mensagens de incentivo. A esses entusiastas, o nosso agradecimento; aos autores dos trabalhos ainda pendentes e por tanto tempo represados, os nossos pedidos de desculpa.

Após 23 anos de presença editorial, os Cadernos de C&T constituem um locus consolidado, onde há lugar para temas e questões relacionados à gestão de C&T e ao desenvolvimento rural, este aqui compreendido e expandido em suas inúmeras vertentes, abordagens e ressonâncias - territorialidade, sustentabilidade, ruralidades... Muitos dos autores que hoje nos enviam seus trabalhos já o fizeram anteriormente, nos anos de 1980 ou de 1990, reiterando junto à editoria atual da revista um vínculo de confiança. Alguns, migrados para outros países, outras atividades, outras áreas do conhecimento, reforçam o vínculo ao fornecer o seu apoio sob a forma de resenhas e emissão de pareceres.

Não obstante a palheta temática da revista comporte inúmeros temas a serem trabalhados à luz de perspectivas disciplinares incontáveis, é a Agricultura Familiar que representa um dos eixos temáticos mais promissores, em torno do qual tantos estudos são desenvolvidos e tantos resultados são registrados na forma de artigos portadores de informação qualificada - novas propostas metodológicas validadas, comprovação de hipóteses, apresentação de novas tecnologias, ensaios e outros. Esse é um tema que atualmente floresce, sendo objeto de uma surpreendente gama de trabalhos. Estes, por sua vez, são desenvolvidos por equipes cujos membros se vinculam parte à Academia, parte a instituições governamentais com forte atuação em desenvolvimento rural - voltadas à educação rural, à pesquisa tecnológica, à reforma agrária, à extensão rural e tantas outras frentes de ação. Essas conformações de autoria, em parte acadêmica e em parte oriunda de instituições governamentais, parecem nos querer dizer que aos quadros técnicos das instituições governamentais ligadas à questão do desenvolvimento rural sustentável e à agricultura familiar vêm sendo oferecidas boas oportunidades de aperfeiçoamento formal em programas de pós-graduação. Por sua vez, no âmbito da Academia, a criação de novos programas de pós-graduação nessas áreas e o concomitante fortalecimento de equipes e núcleos de pesquisa, tanto em agricultura familiar como em desenvolvimento territorial rural, decorrem, certamente, da inserção da Agenda Social no Plano Plurianual 2004-2008 e da implementação de uma consistente política de desenvolvimento territorial rural sustentável, envolvendo ações articuladas de diferentes ministérios. Tudo isso é novo, recente, embora as situações trabalhadas e os problemas abordados remontem a várias décadas passadas (por exemplo, os de natureza tecnológica) ou mesmo séculos (por exemplo, os de natureza agrária). Tomando aqui emprestadas as palavras da professora Maria Nazaré Wanderley, a "agricultura familiar não é uma categoria social recente, nem a ela corresponde uma categoria analítica nova na sociologia rural. No entanto, sua utilização, com o significado e abrangência que lhe tem sido atribuídos nos últimos anos no Brasil, assume ares de novidade e renovação".

Neste número dos Cadernos de C&T, os trabalhos se distribuem equilibradamente em um variado leque temático: agricultura familiar, agroindústria, inovação tecnológica e registro de patentes, agricultura orgânica e produção integrada.

Abre a reduzida pauta deste último número do volume 23 o estudo desenvolvido por Marcelo Antonio Conterato e Sergio Schneider, intitulado A agricultura familiar do Alto Uruguai, RS: mercantilização e estratégias de reprodução no Município de Três Palmeiras. Segundo este estudo, a reprodução do padrão agrícola de produção, que historicamente tem se demonstrado concentrador e excludente, é reforçada pelo processo de mercantilização, o qual leva os agricultores familiares a estabelecer relações sociais e econômicas que privilegiam a especialização produtiva, a concentração dos meios de produção e a individualização do processo produtivo.

A partir do momento em que a preocupação com os aspectos sociais, ambientais e de saúde passou a orientar as escolhas de muitos consumidores conscientes, dois movimentos ganharam força: o da Agricultura Orgânica e o da Produção Integrada. Ambos buscam atender a essas novas expectativas do consumidor e apresentam normas para a certificação de seus processos, abordando, com maior ou menor abrangência ou profundidade, aspectos sociais, ambientais e de segurança dos alimentos. Embora com enfoques diferentes, há pontos de convergência entre esses dois movimentos e as normas que os regulamentam. Esses pontos de convergência são analisados do ponto de vista normativo no trabalho assinado por Maria Cristina Prata Neves e João Francisco Neves, intitulado Agricultura Orgânica e Produção Integrada: diferenças e semelhanças.

Utilizando as patentes industriais como indicadores de inovação tecnológica, João Marcos de Souza Alves, Orlando Martinelli e Homero Dewes prospectaram quatro dos principais bancos de patentes do mundo, analisando um total de 3.104 documentos depositados entre 1976 e 2002, pesquisa cujos resultados apresentam em Dinâmica inovativa no agronegócio: a inovação tecnológica na avicultura industrial por meio da análise de patentes.

Os arranjos institucionais envolvendo instituições públicas e privadas são objeto do artigo Parceria interinstitucional público-privada na pesquisa agropecuária: o caso da cevada cervejeira, assinado por Denise Werneck de Paiva, Renato Fernando Amabile, Euclydes Minella e Filipe Guerra Lopes. O estudo descreve a evolução histórica de uma parceria entre empresa pública e privada, iniciada com a Embrapa Trigo, no Rio Grande do Sul, e sua situação atual, num momento em que a cevada cervejeira representa uma alternativa viável para o sistema de produção irrigada no Cerrado brasileiro. Os autores enfatizam a importância da parceria, tanto para a pesquisa científica e tecnológica brasileira como para o setor privado, pelo aumento da competitividade de seus produtos.

Esperamos continuar a receber novas contribuições na forma de artigos, revisões, ensaios, resenhas e comentários.

Queremos fazer um agradecimento especial àqueles que têm ajudado à Editoria Técnica da revista no processamento do grande volume de material em acúmulo para a produção deste e dos demais números pendentes. Incluem-se aqui não apenas os nossos pareceristas, que analisam os trabalhos muitas vezes em tempo recorde, mas também os que conosco colaboram como conselheiros e consultores científicos, opinando sobre aspectos diversos do processo editorial, até mesmo sobre certas decisões a serem tomadas. No que concerne à revisão vernacular e à normalização bibliográfica, já na fase de editoração gráfica, cabe a observação de que a equipe de editoração dos Cadernos de C&T é uma equipe recém-formada, mas já bem articulada, cujos membros muito contribuem no incremento da qualidade dos textos sob a sua responsabilidade. O nosso reconhecimento é dirigido, também, à Gerência-Geral da Embrapa Informação Tecnológica, às Gerências de Produção e Administrativa, pelo incentivo e apoio irrestrito à experiência editorial substanciada nos Cadernos de Ciência & Tecnologia, bem como pela confiança depositada nesta Editora Técnica.


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct2006.v23.8647