INTRODUÇÃO

Maria Amalia Gusmão Martins

Resumo


Esta edição condensada do volume 24, da revista Cadernos de C&T, reúne os números de 1 a 3, referentes ao ano de 2007.

Na pauta, dando continuidade à tradição seguida pela revista ao longo dos seus anos de existência, incluem-se temas que se estendem do macro ao micro - das políticas públicas (previdenciária, de extensão rural, de desenvolvimento territorial) às peculiaridades mais locais, estudadas no âmbito de determinado território ou município - e autores que se ocupam de diferentes setores da agricultura, desde a exploração da pequena propriedade familiar rural até a produção em escala empresarial, a partir de diferentes perspectivas e abordagens.

Em termos geográficos, o conteúdo dos trabalhos reunidos neste fascículo cobre todas as regiões do País, de norte a sul, estando o Rio Grande do Sul presente em três dos sete artigos veiculados aqui. Em termos temáticos, embora o eixo comum da maioria dos trabalhos seja a Agricultura Familiar, é dentro de um contexto empresarial de larga escala que aspectos relevantes da questão energética são analisados pelo primeiro artigo da pauta deste número.

As implicações e consequências de uma demanda mundial crescente por biocombustíveis, a mecanização gradual de todas as etapas de produção da mais exponente matéria-prima - a cana-de-açúcar - e a consequente demanda por uma mão de obra mais especializada são pontos de partida para a revisão trabalhada no artigo Análise da expansão da agroindústria canavieira no Centro-Sul do Brasil, assinado por Carlos Eduardo de Freitas Vian, Alan Arthuso Pavani, Marcelo Mikio Hanashiro, Deise Rocha Martins dos Santos Oliveira, Marcia Izabel Fugisawa Souza e Fábio Ricardo Marin. Os autores - vinculados à USP/Esalq e à Embrapa Meio Ambiente - analisam e discutem os impactos da agroindústria canavieira no que concerne à geração de emprego no campo, à sua relação com o meio ambiente e à elevação da produtividade agrícola e industrial do setor.

Já o trabalho Aptidão agroecológica de terras: proposta de avaliação em paisagens rurais montanhosas ocupadas por pequenos agricultores na Serra do Mar, de Braz Calderano Filho, Antônio José Teixeira Guerra, Francesco Palmieri, Mauro Sérgio Fernandes Argento, João Roberto Correia e Antônio Ramalho Filho, nos leva à paisagem rural montanhosa da Serra dos Órgãos, mais especificamente a uma pequena área ocupada com agricultura familiar, localizada na divisa dos municípios de Nova Friburgo e Sumidouro, região serrana do Estado do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo em que se faz aqui a entrega do resultado da avaliação da aptidão agroecológica das terras por unidade ambiental, demonstra-se o procedimento adotado para essa avaliação. É importante ressaltar que os levantamentos de aptidão agroecológica procuram estimular o aproveitamento racional e sustentado das terras, definir áreas de preservação ou recuperação das qualidades ecológicas de terras degradadas, bem como sugerir atividades de recuperação para fortalecer ecossistemas frágeis.

Dinâmica do sistema agrário e transformações da agricultura familiar do Município de Santo Antônio das Missões, RS, de Benedito Silva Neto, Adilson Ribeiro Paz Stamberg e Angélica de Oliveira, analisa a dinâmica da agricultura do Município de Santo Antônio das Missões, RS, com o objetivo de propor linhas estratégicas para a elaboração de políticas de desenvolvimento local. A partir da identificação e caracterização das microrregiões agrícolas e do estudo da história agrária do município, foram identificados e caracterizados seis períodos históricos distintos, refletindo os principais processos de constituição das categorias sociais dos agricultores e dos sistemas de produção por estes praticados, desde a presença de agricultores em franco processo de capitalização até alguns tipos de unidades de produção familiares ameaçadas de exclusão da atividade agropecuária.

O ensaio Interfaces possíveis entre Política Territorial e Extensão Rural, de Rodrigo de Souza Ferreira, busca avaliar os atuais limites da implementação de uma proposta de desenvolvimento territorial e apontar como as agências de extensão rural podem contribuir para a concretização desse propósito, uma vez reconhecidas as limitações dos grupos gestores em promover articulações sólidas e direcionar os recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), na modalidade Infraestrutura, para efetivos programas de desenvolvimento regional.

No artigo Agricultura Familiar e Previdência Social: envelhecendo na pobreza?, assinado por Nádia Velleda Caldas e Flávio Sacco dos Anjos, a influência da previdência social rural sobre a dinâmica da agricultura familiar no Estado do Rio Grande do Sul é analisada e discutida, tendo como base uma pesquisa realizada junto a 238 estabelecimentos rurais, entre os anos de 2003 e 2004. Os resultados da pesquisa não apenas indicam a importância dessa política pública para a reprodução social das famílias rurais como confirmam a hipótese do papel da previdência no financiamento indireto da agricultura, especialmente naquelas regiões onde as famílias contam com reduzidas oportunidades de emprego e renda.

Tendo como substrato de análise os dados da produção agrícola de 6.611 famílias fixadas em 148 assentamentos rurais do Rio Grande do Sul, o artigo de Paulo Freire Mello, intitulado Produção agrícola nos assentamentos rurais do Rio Grande do Sul: um estudo quantitativo comparativo, confronta a produção média de soja, milho, arroz, feijão, suínos, aves, leite e ovos dos assentamentos com a das demais propriedades com área similar, localizadas nas mesmas microrregiões analisadas. No texto, apontam-se diferenças regionais entre os assentamentos, resultantes das assimetrias relacionadas à infraestrutura, ao solo, ao clima e ao entorno socioeconômico. Uma farta gama de dados de produção e consumo, por produto e por microrregião, é disponibilizada neste trabalho.

O artigo da sessão Debates se intitula Pesquisa "com" e "para" os Agricultores Familiares, é uma contribuição de Dalva Maria da Mota, Heribert Schmitz e Minelvina Nascimento Freitas em resposta ao texto publicado no 1° fascículo do volume 23 desta revista - Agricultura Familiar e Pesquisa Agropecuária: a questão vista de um outro ângulo1 -, assinado por Antonio Flavio Dias Ávila, Levon Yeganiantz e José Ramalho de Castro. Os autores de Pesquisa "com" e "para" os Agricultores Familiares defendem a necessidade de políticas e ações especiais para a agricultura familiar, particularmente da pesquisa "para" e "com" os agricultores, segundo arranjos variáveis. Esse viés distingue-se da proposta de Ávila, Yeganiantz e Castro (ÁVILA et al., 2006), que propõem uma divisão de trabalho em que caberia à Embrapa a pesquisa de ponta para segmentos capitalizados e às Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas), a pesquisa aplicada para segmentos em risco de exclusão social.

Obviamente, o debate não se esgota e novas facetas da mesma questão tendem a surgir à medida que o debate avança. Novas contribuições são esperadas, não somente sobre o tema em pauta - Pesquisa e Agricultura Familiar - como também sobre outras questões de interesse dos nossos leitores, desde que pertinentes à linha editorial dos Cadernos de C&T.

Fecha o volume a resenha preparada por Gutemberg Armando Diniz Guerra - O lavrador e posseiro da ciência - sobre a obra do professor Jean Hébette, recentemente reunida nos quatro volumes publicados pela Editora da Universidade Federal do Pará, sob o título de Cruzando a fronteira: 30 anos de estudo do campesinato na Amazônia2. Inevitavelmente, o professor Gutemberg superaria os limites em geral estabelecidos para uma resenha. Em primeiro lugar, por estar bastante familiarizado não apenas com os textos ali reunidos, mas também com a problemática neles tratada. Em segundo lugar, por conhecer bem, de longa data, o autor desses textos. E por último, mas talvez como principal motivo, porque, como o próprio título da obra resenhada deixa explícito, trata-se da produção de quase toda uma vida, cobrindo um horizonte temporal de 30 anos, reunida em quatro volumes, num total de 1.424 páginas. Ao contextualizar alguns aspectos da obra dentro da trajetória de vida do autor, o professor Gutemberg nos proporciona a possibilidade de uma compreensão mais amplificada desses textos.

Maria Amalia Gusmão Martins Editora


Palavras-chave





DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct2007.v24.8635