INTRODUÇÃO

Maria Amalia Gusmão Martins

Resumo


Este primeiro número do 29° volume da revista Cadernos de C&T é dedicado aos sistemas de produção tal como praticados no âmbito da agricultura familiar. Nele estão reunidos onze dos trabalhos apresentados no Congresso realizado em 2010 e selecionados pela Sociedade Brasileira se Sistemas de Produção (SBSP) para compor um fascículo temático da revista CC&T. A iniciativa foi articulada com as Diretorias 2009/2010 e 2011/2012 da Sociedade. Embora pré-selecionados no âmbito da SBSP, os artigos ora publicados foram aprovados após serem submetidos à analise de pareceristas especialistas, em blind peer review e de acordo com as regras usuais seguidas pelos Cadernos. Os trabalhos aqui reunidos trazem resultados de pesquisas desenvolvidas de norte a sul do País, em sua maioria desenvolvidas no âmbito de programas de pós-graduação de universidades federais, sendo os artigos assinados por professores, pesquisadores e alunos a elas vinculados.

Podemos afirmar que hoje, ao invés de adaptações simplificadas de tecnologias geradas em (e para) contextos empresariais, tem-se já um considerável acervo de soluções tecnológicas desenvolvidas no âmbito da pequena produção familiar e a ela destinadas. Portfolios substantivos de tecnologia agropecuária para este segmento – agricultura familiar – podem, atualmente, ser organizados segundo região geográfica, produto, sistema de produção, disponibilidade de mão de obra familiar, regime pluviométrico, topografia, etc.

Ao considerarmos que as probabilidades de sucesso de um determinado sistema de produção – tanto em termos de produtividade imediata como em termos de sustentabilidade – dependem de um largo espectro de variáveis que alcança desde as condições climáticas, topográficas e edafológicas da propriedade às condições de escoamento e comercialização dos produtos, passando pela variada gama de fatores condicionantes do processo de produção – tais como patamar tecnológico do produtor, recursos para investimento na atividade, infra-estrutura do município onde se localiza a propriedade (eletrificação rural, conectividade, estradas), acesso à assistência técnica – é imediata a percepção de que soluções tecnológicas massivas são hoje impensáveis e que, para um segmento de produção tão multifacetado, a lógica de produção de conhecimento se aproxima muito mais da lógica denominada por Gibbons et al. (1996)1 como Modo 22. Na lógica do Modo 2, o conhecimento é construído no contexto de sua aplicação e a sua construção envolve uma ampla rede sócio-técnica, constituída por técnicos, pesquisadores, operadores, gestores, usuários e outros agentes vinculados ao contexto de aplicação ou externos a este, inclusive consumidores finais.

Embora as soluções e aplicações tecnológicas para o segmento da agricultura familiar tenham como característica peculiar o fato de ser geradas e orientadas para contextos de aplicação bastante específicos, a divulgação dessas experiências, mesmo quando altamente contextualizadas, se torna cada vez mais enriquecedora para o acervo de tecnologias concebidas para um segmento historicamente tratado como marginal e hoje já considerado, na Academia e nos ambientes de pesquisa socioeconômica e agropecuária, como complementar e necessário, nas funções de abastecimento, somando-se aos segmentos produtivos empresariais e altamente capitalizados da agricultura, da pecuária e da agroindústria.

Não obstante as ressalvas quanto à aplicação de soluções tecnológicas massivas no âmbito do segmento da agricultura familiar, as unidades de produção (propriedades rurais), os núcleos comunitários (comunidades, assentamentos, etc.) e as entidades de produtores associados (associações, cooperativas e outras iniciativas associativas) sempre poderão vir a se beneficiar da experiências de outras unidades, comunidades ou associações com configurações similares ou aproximadas. Do mesmo modo, os pesquisadores e técnicos envolvidos em pesquisa, transferência de tecnologia e avaliação de impactos da atividade agropecuária e florestal – engenheiros, biólogos, socioeconomistas, agrônomos, veterinários, zootecnistas e outros – encontrarão nos trabalhos desenvolvidos por seus pares os referenciais teóricos, metodológicos, de produção e de gestão necessários (ou inspiradores) para a construção de novos conhecimentos, destinados à solução de outros problemas, em outros contextos de aplicação.

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DOI: http://dx.doi.org/10.35977/0104-1096.cct2012.v29.14553